por Divaldo de Aguiar Lopes
Quem passava pelas proximidades da Praça Joaquim Murtinho (antigo Valonguinho), via no centro da mesma, um chafariz de granito pardo, pequeno monumento arquitetônico, em estilo clássico, sob arcos romanos, medeiando entre estes, jarrões de bojo gomado, onde, outrora, existiam bicas de bronze a jorrarem água no tanque quadrangular que lhe ficava entorno.
A história desse chafariz, que a Prefeitura Municipal de Niterói, este ano (1954), resolveu transferir para o adro da histórica igrejinha de 'São Lourenço dos Índios', visto o citado logradouro ser parte integrante da área onde se erguerá o Hospital Escola da Faculdade Fluminense de Medicina, começou em 1845, no tempo em que governava a província o ilustre niteroiense e grande estadista do Império, Conselheiro Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho.
Fruto de uma subscrição pública, destinada, inicialmente, à realização de um baile em homenagem àquela figura, exemplo vivo da atitude patriótica de bom governante, sempre interessado pelas cousas citadinas, e no momento, atento em minorar o doloroso problema de fornecimento, à cidade, de água potável. Quando sabedor da homenagem, declinou da mesma, solicitando à comissão o emprego do produto arrecadado em uma obra de interesse coletivo: a construção de um chafariz, na pequena praça, então existente à esquerda do começo da rua Direita da Conceição (rua da Conceição de hoje).
A Praça, antes acanhada, alargou-se, cooperando no melhoramento os doadores de duas casas velhas que atravancavam o local, Gabriel Alves Carneiro e sua cunhada Matilde Clemente do Amaral.
Após o alargamento da praça, esta recebeu, por deliberação provincial de 29 de outubro de 1845, o nome do valoroso chefe indígena, cognominado o "fundador da cidade" Martin Afonso de Sousa. Colocaram-lhe o chafariz, cabendo as obras ao engenheiro Reis Alboim. Ficou quase junto ao cais, à mão esquerda de quem descia a rua Direita da Conceição.
A inauguração solene e realizada pelo Imperador D. Pedro II, deu-se quando pela segunda vez, S. M. I. visitou a cidade.
Durante vinte e sete anos permaneceu onde fora inaugurado, prestando bons serviços a todos, especialmente às pequenas embarcações que nele iam se abastecer. Em 1874 removeram-nos para dentro da praça, então alcunhada pelo povo de "Praça do Mercado" pois ali existia, efetivamente, o mercado público.
Quando o edifício do mercado passou à casa de habitação coletiva, abasteceu, durante muito tempo, as lavadeiras que disputavam sua água em acaloradas querelas. Pouco depois da inglória "Revolta da Armada", o casarão transformou-se em sede do "Batalhão 530" e o chafariz continuou prestando relevantes serviços aos militares. Quando essa corporação deixou o prédio, o mesmo já pardieiro, foi vendido à Companhia e Viação Fluminense, na época sob a direção do Visconde de Morais, para ali erguer o edifício sede da empresa. O chafariz foi, então, entregue à Prefeitura que em 1908, o colocou na Praça Joaquim Murtinho (Valonguinho), onde permaneceu até setembro deste ano.
Acervo do Centro de Memória Fluminense: LOPES, Divaldo de Aguiar, via Luiz Marcello Gomes Ribeiro. (1) Chafariz de granito situado na praça Dr. Joaquim Murtinho (antigo Campo do Valonguinho ). Niterói: 1942. No verso o autor expressa sua indignação com a demolição do chafariz! (2) Ruínas do chafariz de granito após o transporte dos blocos para a Praça General Rondon. Sentado sobre as ruínas vemos o historiador Divaldo de Aguiar Lopes. Niterói, 22 nov. 1955. (3) Praça Dr. Joaquim Murtinho. Niterói, 1950.
Publicado originalmente na Revista Guanabara Fluminense, em 1954