Área: 1,42 km2
População: 10643 habitantes (IBGE 2000)
Tendo como vizinhos os bairros de Santa Rosa, Fonseca, Viçoso Jardim, Ititioca, Fátima e Pé Pequeno, o Cubango cresceu no interior de um estreito vale que é cortado pela rua Noronha Torrezão, a sua principal via, e que já teve diversas denominações: Estrada da Engenhoca, do Cubango e rua do Calimbá, referência ao rio que corta todo o vale, desde o morro da Chácara do Céu. Inicialmente, bairros como o Cubango, Pé Pequeno e Viradouro faziam parte de Santa Rosa, que se caracterizava pelas suas magníficas chácaras cobertas por árvores frondosas e com uma população pouco densa.
A denominação "Cubango" deriva do Indígena u-bang, cujo significado seria "terras escondidas". Com o passar do tempo veio a dominação portuguesa, que transformou o local em ponto de comercialização de escravos negros onde hoje é a localidade conhecida como "Venda das Mulatas", no entroncamento das ruas Noronha Torrezão, Desembargador Lima e Castro e estrada Viçoso Jardim. O primeiro "centro" de bairro, batizado pelos clientes, recebeu este nome em decorrência de existir, naquele local, um estabelecimento de um português que casou-se com uma negra e teve três filhas mulatas. Presume-se que os escravos seriam provenientes de Angola e adaptaram o indígena u-bang para Cubango, nome de um rio daquele país, ficando assim nominado o lugar a partir de então.
O primeiro registro cartográfico do bairro é de 1833, porém a planta de 1858 ignorou-lhe a existência. Na planta do engenheiro Júlio Frederico Koeler há uma bifurcação pouco depois do Calimbá (nas proximidades da atual Rua Dr. Paulo César), deixando à direita Santa Rosa e rumando, para a esquerda, depois de ladear o Largo do Marrão, em direção ao Cubango, através do começo da atual Rua Noronha Torrezão, então denominada Caminho da Engenhoca.
A história do Cubango se confunde com a da Fazenda Boa Vista. O dono de toda esta riqueza era o português José Antônio Alves Viana, que depois se retirou para o Porto, como consta no anúncio de leilão de suas glebas. A venda de sua propriedade na freguesia de São João de Caray está registrada no Jornal do Comércio de 13 de dezembro de 1838 por Santos & Cia, tendo o leilão ocorrido no dia seguinte. A sede da fazenda, nas proximidades da Venda das Mulatas, distando quatro léguas de Niterói, era comparável somente à Chácara de Icaraí, senão melhor. Não só pela fábrica de fumo presente, ou de tudo que teria de agradável e aprazível, mas ainda pelo verdadeiro palácio rico em vidraças e cômodos no meio de um belo terreno coberto de pés de café. Todavia, não há mais registros físicos deste imóvel e de sua abrangência.
Segundo Everardo Backheuser em seu livro "Minha Terra e Minha Vida - Niterói há um século" (Niterói Livros - 1994), a Boa Vista foi sendo desmembrada gerando pelo menos quatro grandes chácaras produtoras de hortaliças e legumes, que no século XIX abasteciam a população: as chácaras do Malafaia, do Noronha Torrezão, a do Comandante Henrique Antonio Batista (1824-1889) e a gigantesca Chácara do Peña.
Quando o abastecimento de água em Niterói ainda era precário, a chácara do Peña se destacava, pois seu proprietário, o comerciante e cônsul geral uruguaio no Rio de Janeiro, disponibilizava carroças-pipa para suprir a população, levando barris a 40 réis, e em períodos de seca a 100 réis, o que fazia com que só pessoas com recursos pudessem consumir. Érico Augusto Peña (1833-1898) esteve à frente de muitos empreendimentos de urbanização em Niterói, onde sempre residiu, como por exemplo, o Aterrado de São Lourenço. Em sua propriedade localizava-se uma capela dedicada a São José, onde foram celebrados muitos casamentos elegantes.
A chácara Noronha Torrezão pertencia ao capitão-tenente da Marinha, José Leopoldo Noronha Torrezão (1817-1878), que era casado com Augusta Emília, que morreu octogenária na mesma propriedade, em 1900. Ficava na então denominada rua do Cubango, que em 1911 passou a se chamar Noronha Torrezão em homenagem a um dos filhos do casal, o engenheiro professor e antropólogo Alberto Noronha Torrezão (1853-1893).
Paróquia Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, localizada na rua Noronha Torrezão 711
Século XX
Até o final do século XIX, o Cubango era pouco ocupado e com grande presença de negros. O bairro em si só foi criado oficialmente no começo do século XX, e prolongava-se pelo vale de ligação dos bairros de Santa Rosa e do Fonseca. Não havia, então, tráfego de bondes. Salubre, fresco, frio, cercado de morros cobertos de vegetação, sem a umidade das zonas próximas ao mar, era procurado pelos que careciam de uma temperatura amena e apresentavam problemas respiratórios. Segundo a memória de seus moradores mais antigos, era conhecido como a "Suíça de Niterói".
Com o tráfego de bondes, a partir de 1911, veio o desmembramento dos terrenos e a sua procura gerou rápida valorização. Contudo, as aprazíveis residências mais campestres e pitorescas com hortas, pomares e fontes de água cristalinas seriam encontradas no bairro ainda por um bom tempo. Foi nesta época que o tradicional Colégio Brazil saiu de Cordeiro, interior do estado do Rio de Janeiro, onde fora fundado em 1902, mudando-se então para a rua Noronha Torrezão, esquina com a Rua Jônatas Botelho. Este conceituado educandário, fundado pelo professor João Brazil, que teve suas atividades encerradas em 1986, no Fonseca, instalou-se primeiramente no Cubango, como forma de expandir suas atividades. Todavia, o contrato de locação da propriedade foi encerrado em 31 de janeiro de 1923 e, por desentendimento das partes, não foi renovado; assim, esta instituição mudou-se para o Barreto e finalmente para a Alameda São Boaventura.
A partir da década de 1920, começou a se registrar no bairro a presença lusitana e o incremento de sua população. Cabe ressaltar a importância portuguesa na comunidade, seja através do parcelamento de alguns terrenos, seja através do estímulo a atividades econômicas (comerciais, agrícolas) e sociais. A grande concentração de quitandas e armazéns, que abasteciam o Cubango, ficava na "Venda das Mulatas".
A partir da década de 1940 foi iniciada, no Cubango, a ocupação sob a forma de loteamentos. O bairro originalmente proletário se destacava pela grande quantidade de operários que trabalhavam nas indústrias do Barreto, de Santana e nos estaleiros da Ponta d'Areia. Já na década de 1950 a região semi-rural passou por mais um incremento populacional em decorrência de melhorias, que trouxeram ao bairro serviços básicos de infraestrutura como água tratada, esgoto, asfalto e, posteriormente, iluminação a vapor.
O Cubango já teve uma área de abrangência bem maior do que apresenta hoje. Iniciava-se no Largo do Marrão, em Santa Rosa, e terminava na Alameda São Boaventura, no Fonseca e também fazia divisa com os bairros de Ititioca e Caramujo. Com o passar das décadas, seu território acabou por sendo desmembrado em outros bairros que surgiam e cresciam a reboque da especulação imobiliária. O próprio bairro de Viçoso Jardim, já foi todo parte do Cubango.
Anos 1970
A partir dos anos 70, o Cubango passou a arregimentar uma população cada vez maior de classe média, fruto da migração de moradores atraídos pelos financiamentos do Sistema Financeiro (antigo BNH). Este processo modificou gradualmente o perfil do bairro. Em contrapartida, surgiram núcleos de favelização como os morros do Arroz, do Serrão, do Abacaxi e do Querosene. Nestas áreas as habitações, embora sejam de alvenaria, possuem um padrão construtivo considerado precário, com ausência de infraestrutura básica.
Dramaticamente influenciado pelo tráfego da Noronha Torrezão, o Cubango hoje é um bairro de passagem entre o Fonseca e Santa Rosa. Mas é também local de residência, caracterizado pela presença massiva de casas - muitas delas em estado precário de conservação - e de novos prédios residenciais. Em meio aos casarões mais antigos, o comércio vem se diversificando e começam a aparecer alguns tipos de serviços voltados para a população de melhor poder aquisitivo. Escolas particulares e concessionárias de veículos são alguns exemplos.
Na Noronha Torrezão, esquina com Travessa Luís de Matos, se localiza a tradicional Escola Estadual Dr. Jayme Memória, fundada em 1944 como Grupo Escolar Venda das Mulatas, e que desde 1950 homenageia o magistrado e professor cearense que adotou o Estado do Rio de Janeiro como terra do seu coração. Dr. Memória graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Niterói e foi prefeito de Macaé, de 1923 a 1924.
O bairro é também sede de uma das mais tradicionais e vencedoras escolas de Samba de Niterói, a Acadêmicos do Cubango, que hoje desfila na Marques de Sapucaí.
ÍNDICE DOS BAIRROS DE NITERÓI
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