Cap. 37 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel
Após sucessivas greves que abrangeram praticamente todas as atividades da indústria, comércio, bancos e até da burocracia pública e que começaram em fins de 1961, em quase todo o País, o Rio de Janeiro foi sacudido violentamente na noite de 13 de março de 1964, com a realização de um comício-monstro na Central do Brasil, ao qual compareceram vários Ministros do Estado, Oficiais das Forças Armadas, operários, comerciários, marinheiros e soldados.
Dias depois, a rebelião da Marinha saía dos navios e quartéis para as ruas. Marinheiros querendo mandar nos Oficiais. Era a total subversão da hierarquia militar, era o caos. As indecisões do governo federal criaram uma grave crise, tão grande e nociva, que só poderia ter fim com a intervenção oportuna das Forças Armadas que assumiram o poder na noite de 31 de março de 1964. Elas, que logo após a renúncia de Jânio Quadros tiveram o poder nas mãos e o deixaram com João Goulart, dessa feita acharam, prudentemente aliais, que a gravidade da situação exigia que fossem elas a se responsabilizarem pela volta do País à normalidade democrática.
Em Niterói era preso o governador Badger Silveira, que dias depois retornava ao Ingá trazendo no bolso do paletó o nome de um oficial do Exército para ser nomeado Secretário de Segurança. Tal nomeação visava conservá-lo no governo, em pura perda, porém.
No dia 11 de abril, o Congresso Nacional escolhia para a Presidência da Republica o General Humberto de Alencar Castelo Branco. E vieram os Atos Institucionais. Cassado Badger Silveira, a revolução entregou o governo do Estado ao General
Paulo Torres, eleito pela Assembleia Legislativa a 30 de abril.
Em seis anos de governo
Há muitos e muitos anos que o niteroiense não tinha um prefeito que se incomodasse com as coisas do espírito. E desacostumado estava quando, em fins de 1964, assumia a Prefeitura o bacharel
Emilio Abunahman, eleito vice-prefeito em 1963. Além das obras materiais nas quais se empenhou, o prefeito Abunahman voltou-se, logo que pôde, para a cultura criando a Feira do Livro, e o
Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural, além de cuidar, por dentro e por fora, do Theatro Municipal João Caetano. E Niterói assistiu aos torneios de poesia, às exibições teatrais nas Escolas, aos Festivais de Bandas de Música, às exposições de Artes Plásticas e à festiva reabertura do seu único teatro.
Para mostrar a beleza da mulher niteroiense e o que de bom e de belo existe nos bairros, o prefeito, através do Centro Niteroiense de Turismo, por ele criado, instituiu as "Semanas dos Bairros", com festividades diversas, entre as quais a eleição de Miss dos bairros, de inigualável sucesso.
Materialmente, a administração Emilio Abunahman foi pródiga, atingindo os quatro cantos da cidade. Para princípio de conversa, Niterói lhe ficou a dever a extinção do nauseabundo e sórdido "Mercado da Bagdá" que ficava junto da Estação das Barcas, favorecendo assim a sua higiene e estética.
Aquela obra de "Santa Engrácia" vinha se eternizando demais; entrava governo, saía governo e a
Planurbs continuava a atrapalhar a continuação do aterro. Um dia, o prefeito decidiu acabar com aquilo. Chamou o procurador da Prefeitura, estudou com ele o assunto e denunciou o tratado da Planurbs.
Feito isso, concluiu por conta da Municipalidade o aterro da orla marítima até defronte ao Edifício dos Correios e Telégrafos. A seguir, pavimentou, fez as calçadas, e uma nova avenida surgiu em Niterói a que se deu o nome de Avenida Churchill. Mas Niterói deve ainda ao Prefeito Abunahman a construção das Praças José de Alencar e Marechal Mascarenhas de Moraes, a pavimentação de cerca de 180 mil metros quadrados de ruas, o bonito calçadão da Praia de Icaraí, a reforma do Campo de São Bento e o moderno Código de Posturas da Municipalidade.
Emilio Abunahman destarte alinhou-se entre os grandes prefeitos do passado, aos Paulo Alves, Pereira Ferraz, Feliciano Sodré, Ribeiro de Almeida, Villanova Machado, Brandão Júnior e outros. É verdade que Emilio governou seis anos seguidos, o que em parte favoreceu a execução de seu plano de obras; contudo ele poderia ter passado os seis anos sem nada fazer, ou fazer pouco. Mais do que ele, governou Niterói o prefeito
Brandão Júnior (7 anos e meses) que foi um excelente chefe de executivo tendo deixado uma soma bem grande de obras executadas na cidade.
Emilio Abunahman esteve à testa da Prefeitura durante os governos Paulo Torres e Geremias Fontes, tendo deixado o cargo no início da administração Raimundo Padilha.
Niterói, seus débitos e créditos
Ao governador Paulo Torres a capital fluminense ficou a dever, entre outros serviços e melhoramentos, o aformoseamento de sua sala-de-visitas, a imponente estátua de Arariboia e a luz de vapor de mercúrio de toda a orla marítima.
Ao governador
Geremias Fontes Niterói deve, entre outras coisas, o grande auxílio que prestou à Prefeitura e o prestigio dado ao seu prefeito, Dr. Emilio Abunahman. Contudo, débito do Governo Geremias Fontes se deve levar o fim da Praça da República e o sumiço da imponente alegoria "O Triunfo da República", o mais belo e único conjunto estatuário do Estado do Rio. Ao Governador
Raimundo Padilha, Niterói espera ficar a dever muito, do Interceptor Oceânico à conclusão parcial do "Projeto Praia Grande", além da materialização do programa de obras do Prefeito Ivan de Barros.
Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 16 de dezembro de 1973
Na imagem de capa, o prefeito (1967-71) Emilio Abunahman - Revista da OAB, 1969
Série Niterói em três tempos
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