Cap. 41 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel

Existiram em Niterói outros jornais como O Jornal de Niterói, dirigido por Idiomar de Souza; A Tribuna, de S. Soares da Silva, hoje sob a direção de Jourdan Amora; Correio Fluminense, de Silvio Fonseca, e os dois diários de José de Matos. Além desses há ainda o semanário Jornal de Icaraí de Jourdan Amora e os quinzenários Opinião Pública, de Carlos Silva e LIG, dos jornalistas Fernandes Marcondes, Sérgio Neto e Lourdes Pacheco, a inteligente cronista LOU. Duas revistas Atualidade e Única, de Arnaldo Castellani e Vital dos Santos, respectivamente, disputam a preferência dos leitores.

A Palavra

Deixei propositadamente para o final desta relação, a notícia de que em Niterói existiu o mais vibrante e completo semanário político da Velha Província: 'A Palavra'.

Mordaz, sempre a par das últimas novidades políticas, conhecendo perfeitamente bem quase todos os políticos fluminenses, privando da intimidade de vários chefes políticos do interior, dominando com conhecimento de causa e efeito as futricas dos bastidores, o inteligente Sardo Filho, tão cedo roubado à vida, foi o mais combativo e o melhor informado jornalista do meio politico fluminense.

Seu semanário era sempre esperado ansiosamente por amigos e desafetos, porque em suas colunas eles iriam encontrar muita coisa que os interessavam, quem estava ou não nas boas graças dos detentores do Poder e quais as diretrizes prováveis que o Governo iria tomar em determinado caso. 'A Palavra' marcou uma época e seu desaparecimento foi uma lástima. Dos seus colaboradores efetivos, Alvim Filho, inteligência primorosa e uma pena brilhante, foi dos mais atuantes. Políticos até a medula, Sardo Filho foi o grande arauto das decisões políticas tomadas pelos governos dos quais ele gozou da intimidade. Participando menos ativamente, mas com o mesmo brilho de Alvim Filho, Hugo Tavares, poeta dos melhores da terra fluminense, e Alcides Machado Gonçalves, o magno do verbo, escreveram deliciosas e oportuníssimas crônicas em 'A Palavra'.

Abnegados e valorosos jornalistas

Cabe aqui uma palavra de admiração e de estímulo aos proprietários (quase todos jornalistas profissionais) dos jornais niteroienses, por sua pertinácia em manter seus jornais sabe Deus como, face à concorrência que sofrem dos grandes diários cariocas, sempre melhor aparelhados, com capitais, enormes e dispondo de excelentes oficinas e farto de notícias e de informações de todo o País.

Não fossem esses abnegados e destemidos plumitivos da Praia Grande, Niterói hoje não contaria com um jornal, como 'O Fluminense', para só falar do mais velho dos jornais da cidade. E malgrado o interesse dos jornais cariocas pelos assuntos do Estado, eles não têm e nem poderiam ter o mesmo interesse dos órgãos locais e, prova disto, basta ver o pequeno espaço que, por exemplo, 'O Jornal do Brasil' e 'O Globo' entre outros, dedicam diariamente ao noticiário fluminense.

Os jornais falados

Não se pode falar em imprensa da Praia Grande sem mencionar dois jornais radiofônicos cuja difusão abrangia quase a totalidade dos municípios fluminenses. Um deles, O Grande Jornal Fluminense, o pioneiro, dos irmãos Rodrigues da Costa, noticiava tudo quanto de mais importante acontecia no Estado, principalmente em sua capital, focalizando também os atos do Governo, tais como nomeações, promoções e transferências de funcionários e professoras.

Era tal o prestígio desse radiofônico no interior que, certa vez, o finado Senador Sá Tinoco chegou a Itaperuna, sua terra natal, com uma boa nova para um seu eleitor. Tendo obtido a nomeação dele para a Secretaria de Finanças, apressou-se o parlamentar em ir procurá-lo com o Diário Oficial nas mãos. O beneficiado escutou atentamente o senador contar como conseguira a desejada nomeação, cujo decreto estava publicado no órgão do Governo. Após ouvir o Senador, o nomeado virando-se para ele, disse: "Bem, agora é a gente esperar até amanhã de manhã para ouvir 'O Grande Jornal Fluminense'." E num rompante: "Se ele disser que eu fui nomeado, é que fui mesmo..."

Outro jornal falado, aparecido em 1953, era igualmente dirigido por irmãos. Exímios jornalistas e gozando de prestígio nos meios governamentais, os Castro Alves (J.T. e Hesíodo) faziam A Hora do Estado do Rio, procurando 'furar' o colega mais antigo, que às vezes conseguiam, sem contudo abalar a força dele no interior. O ex-Senador Paulo Fernandes foi o grande financiador do radiofônico dos irmãos Castro Alves.


Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 29 de dezembro de 1973

Na imagem de capa, Primeira página da edição nº 5 de O Fluminense (1878)


Série Niterói em três tempos








Publicado em 19/05/2023

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