Cap. 45 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel

Praça Floriano Peixoto

Situada entre as Ruas da Conceição e José Clemente nela é que se encontra o Palácio da Prefeitura. Outrora, a praça era conhecida por Largo do Pelourinho e mais tarde por Praça Santo Alexandre. Recuando ainda mais no tempo ou mais precisamente quando da elaboração da planta primitiva da cidade, a praça nela figura como Largo do Capim e onde, dizia a explicação da urbanista, "seria edificada a Casa da Câmara e por baixo dela se levantaria a Cadeia".

Criada por Nilo Peçanha pela lei de 4 de janeiro de 1904, a Prefeitura niteroiense foi instalada provisoriamente na Câmara Municipal, então, como agora, situada na Praça D. Pedro II, popularmente conhecida por Largo de São João. O edifício da Câmara era um prédio feio, acachapado, que depois foi posto abaixo pelo Prefeito Feliciano Sodré que, no terreno, construiu o novo edifício.

A planta do prédio da Prefeitura foi elaborada pelo prefeito Paulo Alves, mas sua construção começou com o Prefeito João Pereira Ferraz que, contudo, não o pôde concluir em seu mandato, sendo inaugurado pelo Prefeito Vilanova Machado.

O Palácio Municipal tem dois andares e uma bonita fachada de três corpos, um central e dois laterais. Sobre a ala do centro existia um zimbório com as armas da Prefeitura e um relógio. A entrada principal se faz por uma bela e artística porta de madeira de lei que dá para o saguão onde começa a bem lançada escadaria de mármore, em dois lances, para o pavimento superior. Vilanova Machado, em 1926, quando pela segunda vez dirigiu a Prefeitura, levado pela mão amiga do já aí, Presidente Feliciano Sodré, aumentou o edifício da Prefeitura, ampliando as alas laterais. Foi, disse ele em mensagem à Câmara Municipal, "a maneira mais rápida e barata de se conseguir mais espaço, sem recorrer à construção de mais um andar, que iria prejudicar a fachada do edifício que tem, na sua simplicidade, sua maior beleza".

Ao findar a legislatura de 1971, o vereador Sergio Chacon conseguiu aprovar seu projeto dando o nome de Palácio Arariboia o edifício da Prefeitura que, em tempos que longe vão, o povo apelidaria, numa irreverência chistosa de "Palácio dos Palradores", em razão do constante vozerio que se ouvia, como ainda se ouve, no saguão da Prefeitura, ponto de encontro habitual de despachantes, prepostos, munícipes e funcionários que ali se reúnem para tratar de assuntos pertinentes à Municipalidade ou mesmo pessoais e do álacre chilreio, nos fins das tardes calmosas de centenas e centenas de pardais que têm seus ninhos e pousos nas frondosas árvores do antigo Largo do Capim.

Praça Dom Pedro II

Pergunte o leitor a um passante no famoso jardim onde fica a Praça Dom Pedro II e talvez ele não saiba informar. Indague de um outro onde fica o Jardim Pinto Lima e certamente obterá como resposta um "não sei" E por quê? Porque o povo continua a chamar de Jardim de São João a praça fronteira à Catedral que fica no quadrilátero formado pelas Ruas Visconde do Uruguai, Barão do Amazonas, São João e São Pedro.

A propósito do Jardim Pinto Lima, Manoel Benício, aqui tantas vezes citado, publicou em 'O Estado' de 26 de setembro de 1920, sob o titulo "Um Tufão sobre a Cidade", uma crítica à ação do Prefeito Feliciano Sodré, mostrando quão verdadeiro é o aforisma que diz que "o juízo dos contemporâneos sobre um administrador ou político peca quase sempre pela imparcialidade, seja por amizade ou raiva". O artigo em tela dizia: Há dias o Jardim Pinto Lima, construído em 1876 pelo Presidente da Província que lhe deu o nome, foi vítima de um tufão desorientado que passou sobre Niterói. Para aumentar a rua, o prefeito pôs abaixo diversas árvores do jardim e, entre elas, uma "Maria Preta", um "Gonçalo Alves", um "Coração Negro", além de um "Sebastião Arruda", este barbado de samambaias, parasitas brancas, que desciam das galhadas em maçarocas e que é também conhecido por "Barba de Velho". Na outra ponta do jardim, "o terrível prefeito derrubou uma "Barriguda", com mais de cinquenta anos, bem cuidada, bela, alta, robusta e que fora ali transplantada pelo próprio Presidente Pinto Lima."

Manoel Benicio termina o artigo virulento com esta exclamação patética: "Ó árvores das ruas, das praças, logradouros e jardins de Niterói, levantem para o céu suas ramagens galhudas bendizendo o atual prefeito por não terem feito mal".

Mas voltemos à praça. Quando da planta elaborada por José Clemente, ela teve a dominação de Praça Municipal, vindo depois a se chamar de Largo de São João. Além da Matriz voltada para a praça, está também o edifício da Câmara Municipal que, em 1835, quando se estabeleceu o Governo Provisório, foi transferida para outro prédio fronteiro, alto à Rua D'El Rei (Visconde do Uruguai) esquina de São João. Mais adiante, informa Matoso Maia Forte ('História de Niterói') ficava em um velho casario, a casa do Governo Provincial. Somente em 1864 é que a Câmara Municipal voltou para seu primitivo prédio, depois demolido pelo então Prefeito Feliciano Sodré que construiu o atual, por ele inaugurado em 1914.

A propósito, os adversários de Sodré acharam que o velho prédio de tantas tradições era bem mais bonito pelo que não faltaram críticas ao gosto do prefeito. O antigo prédio da Câmara teve sua construção iniciada em 1821, mas só três anos depois foi que ele pode reunir-se no edifício, ainda que ele não estivesse de todo pronto. Os niteroienses de então tinham orgulho da Casa da Câmara, um edifício suntuoso para a época, de linhas sóbrias e bem lançadas, embora sem estilo certo. Contudo, o prédio era vistoso e bonito e chamara a atenção de quantos passavam por perto.

Após sua inauguração, em 1864, ia gente de todos os recantos de Niterói apreciar-lhe a suntuosidade maravilhando-se com a iluminação a gás, que lhe dava um certo encanto, embora achassem exagerado o seu custo. A Câmara ficara por mais de cinco contos de reis, quantia vultosa para a época e que, diziam os maledicentes ficava além do valor real da obra. Por essa quantia, asseverou um edil da oposição, "o magnífico Conde de Bobadela, construíra os maravilhosos Arcos da Carioca, no Rio de Janeiro".

Interessante é que o novo prédio foi construído no mesmo local da velha Câmara e, embora maior, ocupou a mesma área de terreno.


Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 12 de janeiro de 1974

Na imagem de capa, o primeiro prédio da Câmara de Niterói, no Jardim São João, demolido em 1913 (sem data e autor).


Série Niterói em três tempos








Publicado em 19/05/2023

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