Cap. 47 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel

Praça General Gomes Carneiro

Essa praça já teve os seguintes nomes: "Passeio (sic) da Memória", "Largo da Memória" e "Largo do Rink", este de origem popular. O atual nome da praça foi dado pelo Prefeito Feliciano Sodré, logo após a remodelação que fez no antigo Passeio da Memória, recaindo a homenagem num herói da Guerra do Paraguai. O General Antônio Ernesto Gomes Carneiro, pela bravura com que se portou também na revolução federalista, era cognominado "O Herói da cidade da Lapa".

Mas, por que Largo da Memória? Por que Rink?, perguntará o leitor curioso. Vamos por partes. Na Praça Gomes Carneiro existia um monumento e graças a ele podemos satisfazer à curiosidade do leitor, contando-lhe a história. Antes devo esclarecer que havia na face oeste do monumento, a seguinte inscrição: "- 1816 - El Rey D. João VI, de saudosa memória, deu neste lugar beija-mão quando honrou esta cidade, então simples arraial, no dia 15 de maio". Na outra face, lia-se: "Em utilidade pública e para eternizar o fato, mandou o Imperador, o Senhor D. Pedro II, construir este chafariz, sendo Presidente da Província o Senador Aureliano de S.O. Coutinho, 1847".

Vale realçar que, no dia da inauguração, a 30 de abril de 1847, presentes o Imperador, a Imperatriz, os Príncipes e mais pessoas gradas, o chafariz-monumento não tinha água, pois nele não estavam as quatro bicas de bronze, que foram colocadas depois. Mesmo assim, foi inaugurado pelo Imperador que elogiou a bela coluna de granito cilíndrica e o pedestal. Era realmente bonito o monumento.

Com os anos, o monumento foi ficando abandonado e a praça que nunca chegou a ser ajardinada, virou coradouro público. Mas o prefeito Paulo Alves, muito zeloso daquilo que dizia respeito ao passado de sua terra natal, mandou restaurar o monumento, pelo escultor Benevenuto Berna e o reinaugurou no dia 7 de setembro de 1904. E para a edificação dos pósteros, mandou colocar um medalhão com o busto do rei e uma placa comemorativa com os seguintes dizeres: "Interpretando a Justiça Soberana da República, a Prefeitura mandou restaurar este monumento, sendo Presidente do Estado o Dr. Nilo Peçanha, em 7 de setembro de 1904".

Na base da coluna foram colocados um tacape, arco, flechas e um colar de dentes, símbolos dos gentios que povoaram a terra, e as datas de 1500-1822, alusivas ao Período Colonial; "1822-1889, ao reinado imperial e 15 de novembro, data da Proclamação da República". Completando a restauração, o Prefeito Paulo Alves cercou o monumento com um jardim. Mas os iconoclastas agiram; o tempo também agiu o monumento foi sendo despojado dos emblemas comemorativos, exceto o medalhão que alguém teve o cuidado de recolher ao Arquivo da Prefeitura.

O novo prefeito Feliciano Sodré, amante das coisas de Niterói, remodelou a praça que então se chamava Largo da Memória e que depois passou a ser, como até agora, Largo do Rink, pelo fato de nele haver um rinque de patinação. Mas o Dr. Sodré quis também que soubessem que ele cuidara do monumento e, depois de ter mandado recolocar o medalhão de D. João VI, acrescentou um outro, de D. Pedro II, e duas placas igualmente comemorativas dessa terceira reinauguração. As placas diziam: "Este jardim foi construído pela Prefeitura e inaugurado no ano de 1913, sendo Presidente do Estado o Dr. Francisco Chaves de Oliveira Botelho e Prefeito Municipal, o 1º Tenente-Engenheiro Militar, Feliciano Pires de Abreu Sodré".

Não estava, porém concluída a história do Monumento da Gratidão, pois nele, mais tarde, em 1919, foi colocada uma nova placa de bronze contendo os dizeres: - "1819-1919 - O povo de Nictheroy comemorando o primeiro centenário da criação da Vila Real da Praia Grande, mandou colocar esta placa, sendo Presidente do Estado o Dr. Raul de Morais Veiga e Prefeito Municipal o Dr. Enéas de Castro".

Por enquanto, caro leitor é só. Depois de Enéas de Castro, não mandaram colocar novas placas e nem quiseram reinaugurar o monumento, a praça ou o jardim; em compensação, deles não cuidaram. Hoje o monumento que a gratidão do povo erigiu a quem lhe deu beija-mão e premiou esta terra com o título de Real, jaz abandonado, quebrado, estraçalhado, como em completo abandono está o jardim e até o retângulo de cimento onde em tempos passados a mocidade niteroiense patinava.


Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 19 de janeiro de 1974

Na imagem de capa,


Série Niterói em três tempos








Publicado em 19/05/2023

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