Ruas e Praças 07
Cap. 48 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel
Praça da República
Na vertente do Morro da Detenção ou da Caixa d'Agua, que dava para a Rua Visconde de Sepetiba, havia uma depressão enorme, constantemente alagada pelo rio dos Passarinhos, hoje canalizado subterraneamente. Esse alagadiço, viveiro de moscas e mosquitos, era chamado o
Campo Sujo porque era o vazadouro do lixo público e particular, depósito de todas as imundices, a "sapucaia" de Niterói.
O nauseabundo monturo, que tanto prejudicava a estética e a saúde da cidade, foi objeto de estudos e de planos dos prefeitos Paulo Alves e Pereira Ferraz. Mas coube ao Prefeito Feliciano Sodré, no Governo Alfredo Backer, iniciar o seu saneamento.
Campo Sujo pertencia a José Pereira que o deixou em usufruto a uma filha; morrendo esta, o campo passaria a pertencer a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Falecida a filha de José Pereira, por motivos de todo não esclarecidos, os terrenos foram levados à praça. Enquanto isso, Feliciano Sodré pôs-se a trabalhar com afinco no Campo Sujo. Começou escavando mais o Morro da Conceição, do lado da Rua Dr. Celestino, e com a terra dele retirada, foi aterrando o pestilento alagadiço.
Quando o aterro acabou, Sodré construiu nele uma grande praça e propôs ao Presidente Oliveira Botelho que ali fossem construídos os edifícios públicos por ele programados. E logo foram iniciadas as construções dos belos prédios do Palácio da Justiça e da Assembleia Legislativa, em terrenos escolhidos por Sodré. Tais obras, todavia, foram terminadas no governo seguinte, do Presidente Nilo Peçanha que, por sua vez, levantou ali os bonitos edifícios da Secretaria de Segurança e da Escola Normal.
A conclusão urbanística do antigo Campo Sujo foi feita anos depois, por Feliciano Sodré, quando na Presidência do Estado. Para tanto, retificou o traçado da Rua Dr. Celestino e deu novo contorno à praça, então denominada Praça Pedro Feijó.
Com o desmonte de grande parte do Morro da Conceição, um pouco acima dos limites do antigo Campo Sujo, Sodré mandou aterrar parte da enseada de São Lourenço, nas obras do porto. Pronta inteiramente a praça, Sodré resolveu mudar-lhe o nome para Praça da República, no mesmo dia em que inaugurou (15/11/1927) o belíssimo monumento
O Triunfo da República, do escultor patrício Correia Lima. Em bronze e granito o monumento tem (tinha) as figuras de Benjamin Constant, Silva Jardim e Quintino de Bocayuva em tamanho natural e postura ereta.
Na base do monumento, destaca-se (diria melhor destacava-se...) um grupo em que figura uma mulher dirigindo um carro atrelado a dois cavalos, à frente dos quais nota-se a efígie hercúlea de um homem contendo os ginetes. Foi
Feliciano Sodré quem teve a ideia do monumento, para fazer face às despesas, dirigiu um apelo aos municípios fluminenses para que auxiliassem o erário estadual com recursos necessários à sua realização. Por isso, o Presidente Feliciano Sodré, ao descerrar a bandeira nacional que encobria o monumento, estava acompanhado por 29 prefeitos do interior, dos 41 que atenderam ao apelo presidencial.
É de se realçar que o monumento estava situado numa das laterais do antigo Campo Sujo, justamente naquela aterrada com o desmonte do Morro da Conceição, feito para a abertura da Rua Dr. Celestino e que foi executado por processo hidráulico. Concluído o aterro do Campo Sujo, a lama oriunda do desbaste daquele morro foi canalizada para aterrar o grande mangue existente no fim da Rua da Praia, cujas águas pútridas, empesteavam o lugar. Para que a lama tivesse condição de ser canalizada, os engenheiros empregaram maior quantidade de água, de modo que o aterro dessa parte da Rua Visconde do Rio Branco demorou muito para ser concluído.
O jornal 'O Estado', de 21 de outubro de 1926, trazia uma reclamação dos negociantes dessa rua, contra os vazamentos constantes da canalização, que emporcalhavam as calçadas, prejudicando-lhes o negócio. Mas, antes de deixar o Governo, Feliciano Sodré aprontou o grande aterro da Rua da Praia, para gáudio de quantos tinham lá suas residências ou negócios.
Desde 1971 (janeiro), não mais existem o soberbo monumento "O Triunfo da República", nem a praça, sacrificados pelo Governo Geremias Fontes, para a construção do futuro Palácio da Justiça, obra que deveria terminar, conforme promessa oficial, em julho de 1973.
Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 24 de janeiro de 1974
Na imagem de capa,
Série Niterói em três tempos