Miscelânea 01

Cap. 54 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel

A L'embrochure de la rue... - Debret incluiu em sua esplêndida obra 'Voyage Pittoresque au Brésil', uma gravura representando o embarque das tropas portuguesas de retorno à Europa. As mesmas estavam formadas em frente ao Cabaceiro que era então a praia que se estendia da parte baixa fronteira ao Morro do Hospital (São João) até São Domingos, em linha mais ou menos reta. Debret disse que a cena que se reproduziu "se passe a l'embrochure de la rue, assez courto, que conduit a la petite place ou est située la maison occupée pour le roi".

A Maçonaria na Praia Grande - É de Manoel Benício a informação de que a primeira loja maçônica fundada em Niterói, em 28 de maio de 1822, foi a "Loja Esperança de Niterói" e nela se fez ouvir certa vez o afamado Guatemozim, nome Maçônico de D. Pedro I. Contudo, acrescentou o informante, anterior à loja niteroiense era a "Distintiva", sediada em São Gonçalo, desde 1812 e que além do caráter maçônico tinha por panache "ser revolucionária e republicana".

Venda das Mulatas - É ainda de Manoel Benicio o informe de que, em 1830, havia no Cubango uma única venda que pertencia a um português chamado Daniel ou Ismael, que vivia amancebado com uma crioula bonita e livre. Da mancebia nasceram três mulatas formosíssimas, que eram a tentação da rapaziada do bairro. Era tal a beleza das três que vinham rapazes e homens maduros do Fonseca e Icaraí só para vê-las. Morrendo o português, as filhas ficaram à frente do negócio e tal procedimento e tino comercial tiveram, que a venda, logo batizada de "Venda das Três Mulatas", resistiu até princípios do século XX. O mais curioso é que as três mulatas não se casaram e não por lhe terem faltados pretendentes. Houve até um advogado de muito boa família, rico e solteiro que se perdeu de amores pela mais jovem das três mulatas, cujos nomes a história não guardou.

Eleitores de 1852 - Nesse ano eram eleitores da Freguesia de São João Batista de Icaraí: Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, Presidente da Província, João Nepomuceno Castrioto, Dr. Frederico Augusto Xavier de Brito, Dr. Venâncio José Lisboa, José Duarte Galvão Júnior, Dr. Fernando S. Dias da Mota, Galdino Francisco Frougeth, Augusto Francisco Caldas, João Francisco Rangel, Manoel Machado Nunes, Silvestre Manoel, Antônio de Barros, Francisco Batista, João Rabelo de Vasconcelos e Souza, João Gavião Viana, João Francisco da Cruz José de Carvalho, José Rodrigues de Moraes, Joaquim José de Meneses Fróis e Teotônio Neri da Silva Filho.

Loterias para tudo - Era vez, desde os tempos do primeiro império. Faltava dinheiro para uma obra pública? Para um asilo? Para socorrer uma instituição de caridade? Não havia dúvida, socorria-se das loterias. O interessado pedia ao Governo Provincial que dava licença depois de aprovar o plano lotérico e saber de que modo seriam aplicados os recursos dela provenientes. Desse modo muitas obras públicas foram feitas pelo Brasil afora e muita casa de caridade não fechou suas portas graças ao jogo lotérico. Em Niterói, diz Antônio Figueira de Almeida, graças à loteria foram construídos a ponte do Calimbá sobre o Rio dos Passarinhos e a igreja de Jurujuba, o Asilo da Infância Desvalida etc. O Asilo de São Domingos foi transferido para o Fonseca e depois para a Rua Miguel de Frias.

Itapuca - Quem em Niterói não conhece a pedra do Itapuca? Todavia o que só alguns sabem é que a Itapuca (pedra furada) era uma gruta natural, cavada pelo mar no rochedo pardacento que fazia contraste com as águas azuladas e a areia alva depositada em seu fundo. Até 1849, quando o governo provincial (Conselheiro Luís Pedreira do Couto Ferraz, depois Visconde do Bom Retiro), mal aconselhado, mandou destruir a gruta para estabelecer comunicação mais fácil entre as praias de Icaraí e das Flechas. Atravessava-se a gruta, vendendo os seus 15 metros de extensão, com água pelos tornozelos e as vezes a pé enxuto. Hoje, quando a maré baixa, ainda se pode ver a base e o comprimento da gruta da qual resta a pedra conhecida por "bico do papagaio". Há quem diga que a famosa "Pedra do Índio" é uma parte que sobrou da gruta da Itapuca que tanto encanto pitoresco dava a Niterói.

Receita de 1851 - A Imperial Cidade de Niterói tinha nesse ano a receita de Rs: 14.000$000, inferior a de Campos, orçada em Rs: 20.246$000 e de Macaé que foi de Rs: 19.393$600. Nesse mesmo ano existiam em Niterói 5 lavradores de café (em Pendotiba), 4 de chá (em Sapé) e vários em São Gonçalo.

Colégios do século XIX O Almanaque Laemmert, edição de 1849, publicou que nesse ano existiam em Niterói os seguintes colégios: Colégio do Padre Francisco Manoel de Almeida Guimarães, cito na Rua Direita da Conceição; Colégio da Professora Cypriana Jacinta Rosa, na Rua da Rainha, 9; Colégio de Luis Roux, no Largo de São João, 15.

Todos esses colégios eram mistos: contudo, na época, pouquíssimas eram as meninas que faziam estudos secundários. No ano letivo de 1848, nos colégios cotados estavam matriculadas apenas 6 mocinhas, 4 das quais eram filhas de estrangeiros. Também no século XIX, em 1869, foi fundado o Colégio Briggs, na Rua São João esquina da Rua do Príncipe. Seu diretor chamava-se G.H. Briggs e descendia de escoceses.

Recenseamento - Em 1851, Niterói tinha 15.799 habitantes, ao passo que Campos possuía 13.475 e Angra dos Reis 14.736, sendo estes os municípios mais populosos da Província. O de menor população era Friburgo com apenas 4.187 habitantes. A Província tinha uma população de 556.080 habitantes do quais, 293.554 eram escravos.

Hotéis para estrangeiros - Assim classificados, não que eles não aceitassem hóspedes brasileiros, mas porque eram os preferidos pelos alienígenas que se aventuravam no final da primeira década do século XIX vir à Praia Grande, enfrentando um longo e nem sempre calmo trajeto marítimo. O mesmo Almanaque Laemmert esclarecia que dois hotéis disputavam essa freguesia: o Hotel do Epiro, do grego Phocion, cito à Rua da Praia, quase esquina da Rua do Imperador, e o Hotel de Marselha, do português José Joaquim de Souza, que por ter vivido alguns anos na Martinica, tinha sotaque afrancesado. Esse hotel, maior do que o outro, ficava na Rua Direita da Conceição. 16. E ambos, dizia o anúncio publicado no almanaque: "têm tudo para agradar aos ilustres visitantes que conhecem os similares da Europa e que se falava francês". Mais tarde, o francês E. Rocherolle inaugurou o seu "Grande Hotel", bem na Praça do Palacete, dizendo que sua "cozinha era francesa e que possuía completa adega de vinhos raros".


Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 31 de janeiro de 1974

Na imagem de capa,


Série Niterói em três tempos








Publicado em 23/05/2023

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