Cap. 05 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel

No Oceano Atlântico, do lado fluminense, o primeiro forte que se encontra, chamou-se Forte S. Luís e, depois, Forte Rio Branco. Construído no século XVIII, sob o nome de Forte Vargem, por ficar em uma várzea entre o oceano e a praia de Jurujuba.

Ex-D. Pedro II, depois Forte Imbui, é artilhado com canhões de grosso calibre, montados em torres couraçadas, sendo sua construção de 1863.

A entrada da barra, em um promontório, fica a Fortaleza de Santa Cruz construída, que se supõe, por Villegagnon. Em 1596, a Santa Cruz impediu o ingresso da esquadra holandesa de Van-Noorth. No entanto, a fortaleza, por estar desartilhada, nada pode fazer para impedir a entrada da esquadra de Duguay Trouin, como fizera com a de Du Clerc, em 1710. De tal maneira era importante a fortaleza de Santa Cruz para a defesa do Rio e de Niterói, que os franceses de Duguay Trouin logo a ocuparam, lá permanecendo enquanto estiveram no Rio.

O Forte da Boa Viagem data de 1663 e foi reconstruído no governo Sebastião de Castro Caldas e no do Marquês do Lavradio.

Dominando a fortaleza de Santa Cruz, foi construído mais tarde o Forte do Pico, no alto do espigão, a cavaleiro da Santa Cruz.

Outro forte que não mais existe é o de Gragoatá, que já se chamou Forte de S. Domingos. A ideia de sua construção partiu de Castro Caldas, conforme se lê da "representação dirigida à Metropole, em 15 de julho de 1700 e assinada pelos Oficiais da Câmara, Pedro García Pimentel, Miguel Aires Maldonado, Cláudio Gurgel do Amaral, Pedro Barbosa de Sá Ventura Rodrigues Velho, que fizeram ver ao reino que o forte de Gragoatá se fizera sem dispêndio da Fazenda Real, pois foi o próprio povo que contribuiu com 8.000 cruzados para sua construção, mas que até aquela data não era propriamente uma fortaleza porque os canhões, cunhetes, balas e mais artefatos prometidos por Lisboa, não haviam chegados". Contudo, a fortaleza de Gragoatá só foi artilhada em 1718, com 12 peças de ferro e 126 balas. Depois a fortaleza foi aos poucos sendo abandonada, e em 1831 a Regência a suprimiu.

Sobre a Gragoatá conta-se uma recente e curiosa estória que nada tem de comum com o seu passado bélico. O prefeito Gustavo Lira, ao tempo do Interventor Ari Parreiras, resolveu, certo dia, criar o Museu da Cidade, localizando-o no Forte de Gragoatá. Depois das demarches oficiais entre o Interventor Parreiras, que era Oficial de Marinha, e o então Ministério da Guerra (hoje do Exército), o forte cedido ao governo do Estado do Rio para que nele a Prefeitura de Niterói fizesse o Museu da Cidade. Mas o Comandante Ari Parreiras saiu do governo e com ele deixou a Prefeitura niteroiense o Dr Gustavo Lira, e a idéia foi esquecida. Aconteceu, porém, que, em 1941, outro Oficial de Marinha, que era também Interventor no Estado, o Comandante Ernâni do Amaral Peixoto, ignorando o destino dado ao forte, lembrou-se de sugerir ao Ministro do Exército, General Eurico Dutra, que cedesse o abandonado forte ao Ministério da Justiça, para nele ser instalado o Museu da República.

O mais engraçado é que o Ministério do Exército acolheu favoravelmente a ideia do Interventor Amaral Peixoto, conforme comunicação oficial recebida. O Estado do Rio ganharia, em seu território, mais um museu - o da República que faria pendant com o Museu Imperial, sediado em Petrópolis. O mais interessante disso tudo foi que, o velho forte não foi nem uma coisa nem outra; continuou o seu destino militar e abrigou o Quartel General da Segunda Brigada de Infantaria. O Museu da República teve sorte; foi instalado pelo Presidente Juscelino Kubitschek no Palácio do Catete, enquanto o outro, o da Cidade de Niterói, ficou no papel. No entanto, o prefeito Gustavo Lira, para simbolizar a entrega do forte à municipalidade, destinou-lhe o Primeiro Estandarte de Niterói, uma bela cadeira de jacaranda, um velho tinteiro de prata com as armas da República e mais alguns objetos tidos e havidos por históricos, e com os quais o prefeito iniciava o acervo do museu.

Quando em fins do ano passado, à procura dessas peças históricas visitei o Forte do Gragoatá, nada lá encontrei, nem poderia encontrar porque, "nada no forte pode haver que não esteja ligado à sua sorte bélica", como me informou o sargento encarregado do Serviço de Relações Públicas da 2ª Brigada de Infantaria. Por onde andarão os objetos que o Prefeito Lira mandou para o forte?

Neste ano de 1973, das velhas fortalezas a que me referi, resta apenas em atividade o Forte Barão do Rio Branco que é um poderoso conjunto de fortificações, ao qual cabe a defesa da entrada da barra no litoral fluminense. Esse conjunto compreende os Fortes São Luís, Imbuí e Pico. Quanto à Fortaleza Santa Cruz foi transformada, em 1968, em Presídio do Exército, ao passo que o Forte de Gragoatá passou a abrigar o Quartel General da Divisão do Exército, no Estado do Rio.


Velhos Templos

Por inspiração do Padre Braz Lourenço, jesuíta, nos idos de 1570-1573, foi construída na aldeia dos índios, na sesmaria de Arariboia, uma capelinha tosca como uma choupana, onde o Padre Gonçalo de Oliveira passou a rezar missas em um pequeno altar. A Capelinha de São Lourenço recebeu grandes reparos em 1904, na progressista administração do primeiro prefeito de Niterói, o engenheiro Paulo Alves e, em 1915, por Deliberação Municipal, quando o prefeito foi autorizado a entrar em acordo com o Bispado para incorporar ao patrimônio da municipalidade, como monumento histórico da fundação da cidade, a capela sita no outeiro pertencente a Arariboia. Posteriormente foi a capelinha tombada pelo SPAN, que fez obras para assegurar a conservação do prédio. Há tempo a capelinha passou a chamar-se Capela de São Lourenço dos Índios, para diferenciá-la da Igreja Matriz de São Lourenço, que fica no no bairro do Fonseca. A capelinha onde tantas vezes Arariboia e seus gentios assistiram à missa, teve fechadas suas portas até 1949, quando o Bispo D. João da Mata, de saudosa memória, mandou abri-las. Contudo hoje quem quiser visitar a famosa capela terá de avistar- se primeiro com o zelador, que possui as chaves. Mas, vale a pena essa visita para ver que ainda está perfeita, apesar dos quatrocentos anos, a imagem do padroeiro.

Sob a invocação de São Domingos, na Praia do Gragoatá foi erigida em 1652, por um devoto chamado Domingos de Araújo, uma capelinha que hoje não mais existe. Com esmolas dos fiéis a capelinha tosca passou por uma completa remodelação e de simples capela passou a ser a Igreja de São Domingos, no mesmo local onde o fiel Domingos de Araújo possuía um terreno por ele destinado à capelinha.

Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 3 de novembro de 1973. Na foto de capa, Fortaleza de Santa Cruz.

Série Niterói em três tempos








Publicado em 09/03/2023

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