Cap. 06 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel
Construída no morro da Conceição, no fim da rua do mesmo nome, a capela sob a invocação de
N.S. da Conceição foi fundada com "as esmolas dos fiéis e em terreno doado pelos herdeiros de Arariboia". "O templo primitivo, datando de antes de 1663, desapareceu depois de ter visto passar cerca de 220 anos de sua construção. A atual igreja data de 1761.
Ao lado do Colégio Salesiano, em Santa Rosa,
Santuário de N.S. Auxiliadora foi construído pela Ordem, com recursos próprios e auxílios recebidos. Por sua imponência, figura entre os mais belos monumentos de Niterói.
Dedicada a
São Francisco Xavier, "sobre o mar do Saco de Jurujuba, em anos anteriores a 1696, segundo inscrição gravada na frente do armário da sacristia, "a igreja foi construída, não há disso a menor dúvida, pelos jesuítas, que também fizeram, ao lado, uma pequena casa conventual. Contam que a igrejinha, sob a invocação do Apóstolo das Índias, foi erigida por Anchieta, ao tempo em que foi Chefe Provincial de sua Ordem, no Brasil. A verdade, porém, é que não se pode precisar a data exata da criação da capela, que deve ter ocorrido, na década de 1570-1580.
Contudo, não se pode esquecer que Anchieta voltou para São Vicente, em 1560, e lá ficou seis anos dirigindo o Colégio dos Jesuítas. Em 1578, estava ele na Bahia, ano em que foi elevado ao cargo de Provincial, retornando então ao Rio de Janeiro, de onde seguiu para o Espírito Santo, encarregado do núcleo que congregava as aldeias de Reis, São João de Guarapari e Raritiba, "de catequese gorda, onde fervilhavam aos milhares o gentio".
José de Anchieta faleceu, num "belo domingo, nove de junho de 1597". Segundo os assentamentos do Serviços do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que tombou a capelinha de São Francisco Xavier, ela foi construída em 1572, porém não se sabe em que provas se baseou o Patrimônio para essa afirmativa.
Por sua situação em cima de um morro, a capela foi refúgio de religiosos no tempo das invasões francesas, como também foi fortaleza contra os tamoios, já que, na época, a igreja ficava numa ilha. Uma preciosidade ainda existente, e que a igreja guarda com desvelo, é uma urna funerária dos índios, de barro cozido, trabalhada em relevo e que serve de pia batismal.
O antigo proprietário das terras onde se encontra a igreja, Major Luiz José de Menezes Fróis, vendeu a capela e o terreno ao governo provincial para a formação de uma praça e do cemitério. Nessa venda foram incluídos os imóveis, alfaias e imagens, com exceção da de São Francisco Xavier.
Mas não poderia faltar velha capelinha o mistério de algumas lendas, entre as quais a que se refere à casinha que se encontra defronte da igreja, bem antiga, onde teria morado o fundador de Niterói, que está enterrado logo abaixo. Outra lenda, diz respeito a uns túneis que o povo do Jugar acredita que existam debaixo da capela, e que serviram como esconderijo dos índios e escravos que fugiam de seus senhores, até poderem, com o cair da noite, galgar o morro da Boa Vista para cujo sopé dava uma das saídas dos túneis. Há quem afirme que nesses túneis existem numerosas inscrições rupestres feitas, há milênios, pelos primitivos habitantes das costas guanabarinas.
Niterói ainda possui outras igrejas e capelas, como as de N.S. do Rosário, N.S. das Dores do Ingá, São Sebastião do Barreto, Santa Rosa do Viterbo, N.S. da Penha, Porciúncula de Santa Ana, São Joaquim, São Jorge, Santo António de Lisboa, Santo Cristo, Santa Teresinha, Santo Expedito e Santa Bárbara, além da Igreja de São Pedro, no cemitério municipal, em Maruí, e Santa Leopoldina, no Asilo do mesmo nome. Há pouco tempo, coisa de uns dois anos, foi inaugurada, no Canto do Rio, uma linda capela cujo orago é São Judas Tadeu.
O Estandarte do Município
A ele já me referi quando tratei do Forte de Gragoatá. Mas, o estandarte municipal tem uma história que vale a pena contar. Em 1824, a Câmara da Vila Real da Praia Grande mandou confeccionar a bandeira do município, com as mesmas cores da bandeira do novo império. Um pintor fez o painel simbólico, representando S. João Batista, padroeiro; um artista em passamanaria bordou o globo e a coroa imperial e uma hábil costureira costurou a bandeira, em panos verde e amarelo, e a competente lança.
O estandarte tinha duas faces numa, o Santo Padroeiro, de corpo inteiro em cujos pés se encontrava o cordeiro que acompanhou o Santo, símbolo do "Agnus Dei". O fundo do painel, terroso no primeiro plano, de uma terra escura e feia, apresentava no alto um céu adorável. A outra face, em trabalho a fio de ouro, a coroa imperial e a esfera armilar, Armas do Império. O painel, pintado pelo artista Manoel Simoens, custou à Câmara Rs:105$000.
Em 1915, o estandarte, que havia sido recolhido ao arquivo municipal, foi restaurado pelos artistas Edgard Parreiras e Moisés Nogueira. Depois, em 1933 o estandarte foi mandado (teria sido?) para o Museu da Cidade, no Forte de Gragoatá, desaparecendo. Nessa mesma época sumiram, além da cadeira de jacarandá já citada, a Coroa da Imperial Cidade de Niterói, que sem ser de ouro, valia muito por sua significação histórica.
Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 4 de novembro de 1973. Na foto de capa, Igreja de São Francisco Xavier.
Série Niterói em três tempos