Cap. 08 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel
D. Pedro II visitou a Vila Real, logo após sus coroação a 22 de agosto de 1841, ocasião em que houve por bem dar à Praia Grande, já então capital de Província o título de Imperial Cidade. Seis anos depois, voltou D. Pedro II para inaugurar o monumento comemorativo da visita de seu avô, D. João V1 no Largo da Memória. Novamente, em 1854, dessa feita acompanhado da Imperatriz D. Tereza Cristina, voltou D. Pedro II a Niterói para assistir à inauguração da Catedral de São João Batista e do Asilo Santa Leopoldina, do qual foi grande protetor. Essa estada durou três dias, tendo os visitantes percorrido os pontos pitorescos do litoral niteroiense. A derradeira visita de D. Pedro II a Niterói foi por ocasião dos festejos inaugurais do tráfego das barcas "Ferry".
Niterói mereceu, pois, como vimos, a visita dos três imperantes, dois dos quais a agraciaram com títulos mobiliárquicos.
A Primeira visita de D. Pedro II
O noticioso Correio Oficial Niteroiense, em sua edição de 13 de agosto de 1941, a propósito da vinda de D. Pedro II, publicou dois anúncios interessantes. O primeiro, rezava: "D. Maria do Amor Divino, com casa de pasto na Rua da Praia, avisa a público que, em todos os dias de festejos, achará sua casa muito bem provida de jantares, petiscos, quitutes, licores, refrescos e doces, tudo por preços razoáveis e servido com prontidão." No segundo anúncio, constatava-se que: "para a iluminação de Niterói nos dias 23, 23 e 24 do corrente mês, aceita-se quem quiser fornecer azeite velas de espermacete. Dirigir propostas à tipografia da Rua da Praia, na mesma cidade."
D. Pedro II, ainda com dezesseis anos, mas já coroado, aceitara o convite que a Câmara em nome do povo lhe fizera para visitar Niterói. Logo que a resposta real chegou à Praia Grande, foi um reboliço dos diabos. A Câmara admitiu gente para consertar as ruas, varrê-las, por o lixo no aterro do Valonguinho, calar os imóveis municipais e sobretudo, limpar as dependências da Câmara. Nesse mesmo dia, a Câmara convidava o povo para enfeitar as janelas que dessem para as ruas por onde Sua Majestade iria passar, com colchas de damasco, flores e à noite, com luzes. O itinerário, explicava a Câmara, seria pela Rua da Praia, desde a ponte das barcas até à Rua de São João e desta rua até Largo Municipal. Nesse perímetro, avisava o edital da Câmara, não se permitiria o ingresso de pessoas descalças ou mal vestidas e, na igreja, só seriam admitidos a assistirem o "Te Deum" pessoas vestidas em grande gala. E, continuava a fala da Câmara: "a todas as barcaças, faluas, sumacas e mais embarcações que estiverem no porto, pede-se que se enfeitem com bandeirolas e, à noite, nelas se queimem fogos de artificio."
Foi um festão e as homenagens prestadas pelo poder e seu povo ao jovem monarca, dizia o mesmo jornal, depois da visita, "foram de tal imponência e tão triunfantes, como nunca se vira na Vila, nem mesmo talvez em São Paulo ou na Corte". E o jornal inchava de prazer noticiando o programa de festas e fazendo inchar também seus leitores.
D. Pedro e as irmãs desembarcaram pela manhã, ao som da charanga, salvas de foguetes e de vivas do povo e, entre elas de gente dos quatro cantos da Província, dirigiu-se a pé para a Matriz onde assistiu ao "Te Deum". Depois, com grande acompanhamento popular, Sua Majestade foi até ao Palácio da Presidência, no Largo Municipal onde recebeu as autoridades e pessoas gradas. Após o jantar, D. Pedro a cavalo e as princesas de coche, foram ver a Capela de São Lourenço dos Índios, berço da cidade, onde e quando tiveram oportunidade de ver os últimos descendentes dos temiminós, "alguns dos quais, do mesmo sangue de Arariboia."
Dali os ilustres visitantes foram para os areais de Icaraí, parando na Igreja do Rosário e fazendo, na volta, o mesmo trajeto até São Domingos, para poderem visitar o Largo do Pelourinho e o Palacete do Cheira, que de direito pertencia ao Imperador.
Foram dias de festa e de júbilo para o povo, que se fez presente em todos os passeios dos reais visitantes. Niterói inteira vibrou com o auspicioso acontecimento.
Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 10 de novembro de 1973. Na imagem de capa, D. Pedro II ainda jovem.
Série Niterói em três tempos