Cap. 15 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel

O executivo, que até então era exercido também pela Câmara Municipal, passou a ser da competência do prefeito.

O primeiro prefeito de Niterói foi o engenheiro Paulo Alves, cuja obra administrativa foi "o trabalho preparatório dos governos posteriores e, por isso mesmo, não consistiu em melhoramentos materiais". Ao fim do governo Paulo Alves, Niterói deixou de ser "um burgo sem administração, para transformar-se em uma cidade, capital de um Estado. Para tanto, o prefeito Paulo Alves teve que agir com mão de ferro, contrariar interesses individuais, para só atender à conveniência da cidade, agindo, pois em favor da coletividade".

Paulo Alves teve uma tremenda tarefa: a "remodelação da vetusta Niterói, amarrada impiedosamente a uma rotina de anos e anos, afogada na lama e no lixo, pasto público de galinhas e de porcos, na deprimente decoração de coradouros e tinas de barreias, nas suas praças e jardins".

O grande engenheiro, quando passou o governo a seu sucessor, já havia organizado um vasto programa de melhoramentos materiais, inclusive a da rede de esgoto. Mas não ficou somente nisso; o prefeito agitou a vida da cidade, lembrando a nacionalidade, restabeleceu o monumento de Dom João VI, celebrou a festa da República em torno da casa onde nasceu Benjamin Constant, reformou e inaugurou o Theatro João Caetano e suprimiu a vala comum nos cemitérios."

Os Grandes Prefeitos do Passado

Depois de Paulo Alves, os prefeitos niteroienses foram quase todos excelentes administradores. O dr. Pereira Nunes, médico, foi o segundo prefeito e a ele a cidade deve a criação do Horto Botânico, a abertura de escolas e o início da substituição da iluminação a gás pela eletricidade, obra enorme que foi concluída por seu sucessor, o advogado Leoni Ramos.

A este, seguiu-se o engenheiro João Pereira Ferraz, um dos melhores prefeitos que Niterói já teve. Entre suas maiores obras, ressaltam o ajardinamento e embelezamento da Praça Martim Afonso (Arariboia), os cais de Icaraí e Gragoatá, o calçamento a paralelepípedos de numerosas ruas do centro, a estrada para Santa Cruz, no Toque- Toque, a abertura da Alameda São Boaventura, a construção do cais no litoral citadino, a introdução do serviço telefônico e soberbo Campo de São Bento, um dos mais lindos e vistosos parques existentes no Brasil.

E Niterói continuou com sorte, pois, depois de Pereira Ferraz, velo outro prefeito trabalhador e progressista, o Tenente de Engenharia Feliciano Pires de Abreu Sodré, a cujo crédito se deve lançar, entre outros menores, a ampliação da rede de distribuição de água, a construção de vários edifícios públicos para a municipalidade, a remodelação e ampliação do Hospital São João Batista, único da cidade, o ajardinamento das rampas da Alameda S. Boaventura, a pavimentação com cimento das calçadas que ladeiam a citada alameda e sua arborização.

Mais tarde, Feliciano Sodré, na Presidência do Estado, dotou Niterói de um porto de mar, saneando com as obras do porto todo o bairro de São Lourenço. Sua obra em favor da cidade, de maior vulto urbanístico e de higiene, foi o aterro do Campo Sujo, parte do qual ele construiu a linda e espaçosa Praça da República, hoje desaparecida.

E a sorte de Niterói prosseguiu com a administração de Villanova Machado, outro Tenente de Engenharia, amigo de Sodré e que ocupou a prefeitura duas vezes, em 1914 e 1924/1927, deixando na segunda um bom número de serviços executados, inclusive a reforma e ampliação do Palácio da Prefeitura, que depois passou a ser chamado de Palácio Arariboia.

E vieram Otávio Carneiro, Enéias de Castro, Bocaiúva Cunha, Felipe Senés, Homero Pinho, Villanova Machado (2ª vez) e Manuel Ribeiro de Almeida, para só falar nos prefeitos até 1930.

Niterói teve sorte também com alguns governantes do Estado que olharam com carinho para a capital fluminense. Nesse caso, além de Nilo Peçanha, Feliciano Sodré e Ary Parreiras está o Almirante Ernani do Amaral Peixoto que na interventoria e no governo constitucional, fez grandes obras em Niterói, como a 3ª Adutora, a que já nos referimos, os bonitos Grupos Escolares, o Estádio Caio Martins e os Edifícios das Secretarias, Diário Oficial e a Estação Rodoviária. O "Comandante", como ainda hoje e chamado no interior do Estado, no número de suas obras na Praia Grande, deixou o Museu Antônio Parreiras e a bela avenida que tem o seu nome.

Outro governador que muito fez por Niterói foi o Marechal Paulo Torres, que ajudou a Prefeitura a renovar o calçamento asfáltico de quase todas as ruas de Icaraí e do centro, aformoseou a sala-de-visitas da cidade, remodelando inteiramente a Praça Arariboia. Ao Marechal Paulo Torres se deve também a iluminação à luz de mercúrio das praias de Icaraí e das Flechas e a artística estátua de Arariboia, na Ponte das Barcas.

Houve um governador que muito faria pela cidade se a morte não o tivesse levado tão prematuramente. Nos poucos meses que governou, o falecido Roberto Silveira asfaltou várias ruas de Santa Rosa, Barreto e do Saco de São Francisco. Dele também são os estudos para 4ª Adutora e a nova rede de esgotos.

Niterói Sem Luz

A Vila Real da Praia Grande não conheceu Iluminação pública. Se havia luar, sair à noite era uma coisa fácil, mas, nas noites sem luz, só se saía de lampião na mão. Foi o Visconde de Itaboraí, Joaquim José Rodrigues Torres, quem montou 50 "revérberos" nas principais ruas da Vila. Matoso Maia Forte, autor em quem lemos a notícia, acha que "revérbero" devia ser o posto sobre o qual se assentava o candeeiro de azeite de peixe. E, de azeite de peixe, a Praia Grande foi sendo alumiada até que chegaram os "gasogênios", que o 'Zé Povinho' chamou de "gás líquido", com o que melhorou um pouco a iluminação das vias públicas. Assim, ainda se podia namorar na porta de casa, sem escândalo para a vizinhança, com a mãe da pequena firme na janela. A pouca luz dos gasogênios ajudava muito...

Um dia, os namorados entraram em pânico. Niterói, imitando o Rio de Janeiro, seria iluminado a gás. O autor do melhoramento foi o Barão de Mauá, que passou depois esse serviço às mãos da Societee Anonyme de Travaux et d'Entreprises du Brésil. Mas, a época do gás passou e veio a luz elétrica. Os namorados desanimaram de vez...

Nilo Peçanha foi quem autorizou a substituição do gás pela eletricidade. Chegou, enfim, o grande dia: 9 de maio de 1909, dos bairros não ficou ninguém em casa vieram todos para a "ponte" para ver com os próprios olhos "luz sem pavio e sem cheiro". Niterói firmava-se como uma cidade progressista.

Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 21 novembro de 1973

Na imagem de capa, retratos de Nilo Peçanha e Feliciano Sodré

Série Niterói em três tempos








Publicado em 22/03/2023

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