Cap. 29 - 'Niterói em Três Tempos', por Heitor Gurgel

Antes de junho findar, os niteroienses encheram-se de esperanças de ver concretizados os planos de embelezamento da cidade feitos ao tempo do Prefeito Brandão Júnior. Com a "União Territorial Fluminense", sucessora da firma que projetara tais melhoramentos urbanísticos (Dahne & Conceição), durante o governo Miguel Couto Filho, a Prefeitura niteroiense, com interveniência e o aval do Estado, iniciou uma vultosa operação de crédito com as Caixas Econômicas do Estado do Rio, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, no valor total de 400 milhões de cruzeiros (dos antigos) para reiniciar as obras paralisadas desde 1943.

Muito se tem escrito sobre o assunto que já mereceu até ser debatido na Assembleia Legislativa estadual, para onde foi levado, ao tempo do governador Roberto Silveira, que amando como amava Niterói, tentou continuar o projeto em questão. Tal projeto se resumia em obras urbanísticas na orla marítima ligando a Praia Vermelha à das Flechas, isto é, seria a sonhada Avenida Litorânea. Além dessa importante via pública, de inegável valor turístico, obras seriam feitas nos morros do Gragoatá e São Sebastião, donde surgiriam novos e modernos bairros.

O prazo contratual e primitivo de 5 anos, esgotou-se com a firma contratante em falência, pelo que surgiu a União Territorial Fluminense que ficou com acervo de Dahne & Conceição. Mas, o governo Miguel Couto Filho acabou e o de Roberto Silveira terminou de modo abrupto e lamentável e as obras continuaram paralisadas. O enrocamento ficara parado em 1942, um pouco depois da Ponta da Armação, por ter a Marinha se utilizado dos terrenos marginais necessários à defesa nacional (estávamos em guerra) para neles construir a fábrica de torpedos e outras.

Antes, porém, a "União Territorial Fluminense" conseguiu da Prefeitura (governo Alberto Fortes) novo prazo adicional. A essa renovação seguiram-se outras e outras até que em 1964, o então prefeito (Emílio Abunahman) resolveu regularizar de vez a concessão, fixando o prazo de 4 anos para execução e conclusão das obras da litorânea e a abertura dos bairros nos citados morros. Já então era concessionária a firma "Planurbs" que tinha, como interveniente a firma "Yamagata, Engenharia e Obras" que já dera provas de sua suficiência técnica ao executar as obras da 3ª adutora, em 1952/1954. Passou-se um ano e mais um e em 1966, a "Planurbs" mostrou que não tinha suficiência financeira ao confessar que estava lutando para conseguir financiamento do Banco Nacional de Habitação.

Decorreram mais dois anos e como ainda persistiam as dificuldades financeiras da concessionária, a Prefeitura resolveu desapropriar o Plano de Urbanização e Remodelação da Cidade de Niterói, ad referendum da Câmara Municipal e do Poder Legislativo e Executivo do Estado. Enquanto isso, o Prefeito Emilio Abunahman trazia o enrocamento até bem junto da Ponte das Barcas, fazia o aterro, pavimentava-o e pouco depois inaugurava mais uma avenida a que foi dado o nome de Avenida Churchill. Estavam as coisas nesse pé quando o Prefeito Abunshman saiu, sem ter podido solucionar definitivamente problema. Em 1972, o Governador Raimundo Padilha atentando para a grave questão, resolveu em boa hora encampar a concessão, passando o governo do Estado a executar obras programadas. Nesse dia nasceu Projeto Praia Grande.

Eleições presidenciais

No dia 3 de outubro de 1955, os brasileiros foram às urnas para elegerem um novo Presidente da República. Disputavam então o alto cargo, os candidatos Juscelino Kubitschek de Oliveira, Ademar de Barros, Juarez Távora e Plinio Salgado. Em Niterói houve uma abstenção calculada em 35%, tendo o governador Miguel Couto Filho, de origem pessedista, ficado com a candidatura Ademar de Barros. Apesar disso, o candidato do PSD, Juscelino Kubitschek ganhou as eleições no Estado do Rio e em Niterói, com cerca de 130 mil votos a mais do que o udenista General Juarez Távora.

Fim de ano agitado

Novembro de 1955 trouxe para Niterói e para todo o País uma grande e surpreendente notícia: adoecendo gravemente, o Presidente João Café Filho renunciara e se recolhera à uma Casa de Saúde, ficando o governo nas mãos do Presidente da Câmara dos Deputados, o mineiro Carlos Luz. Dias depois, a Câmara dos Deputados em agitada sessão votou o impeachment do Deputado Carlos Luz, pela qual chegava à Presidência da República, o Senador Nereu Ramos, presidente do Senado. E Niterói, enquanto se passava na Capital Federal (ainda o Rio de Janeiro), viveu dias de angústia, aumentada de muito quando o Deputado Carlos Luz e seus ministros embarcaram no cruzador "Tamandaré" que saiu barra afora, sob o fogo do Forte de Copacabana. E logo uma notícia alarmante agitava Niterói: as fortalezas de Santa Cruz e Rio Branco haviam tido ordens para responder o fogo do Tamandaré" o que felizmente não aconteceu.

E com mais alguns dias, o País voltou à calma com a passe do Presidente eleito, Dr. Juscelino Kubitschek. Na oportunidade vale realçar o importantíssimo papel apaziguador desempenhado pelas Forças Armadas.

E 1955 terminava com a terrível explosão na Electroquímica, na Ponta da Armação, com mortos e feridos.

Cinco anos de ufanismo

Boas perspectivas para 1955, com as alvissareiras novas dadas na fala do Presidente Kubitschek ao povo, no dia de sua posse. E o niteroiense, meio afogado pela inflação, voltou a ter ânimo e esperanças em dias melhores. Mês e meio depois, uma enquete feita pelo O Estado mostrava que o custo de vida subira mais 20%. Para fazer face à escassez de alimentos e combater a ganância de alguns, o Governo do Estado, por intermédio da COAP, noticiou que iria importar gêneros alimentícios a fim de barateá-los. Mas 1956 terminou sem que essas providências fossem cumpridas.

E 1956 iniciou com os mesmos problemas de falta de gêneros e alta crescente de seus preços, falta e alta que foram sentidas em todo o decorrer do primeiro semestre do ano. E o ano de 1956 acabou com uma notícia importantíssima para o País: o Presidente Kubitschek começara a construir a nova capital brasileira no planalto goiano, cumprindo assim um artigo da Constituição vigente, artigo que foi uma constante nas Constituições desde a de 1891, a primeira que a República teve.


Publicado originalmente no jornal O Fluminense em 9 de dezembro de 1973

Na imagem de capa, mapa do Projeto Nova Niterói da Cia Dahne & Conceição (Revista Careta, 1943)


Série Niterói em três tempos








Publicado em 30/03/2023

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