Nascido e criado em Niterói, onde reside ainda hoje, o Dr. Romeu Seixas Mattos tem a glória de contar que no início do século fez as primeiras instalações de luz elétrica na cidade, foi destacado para trabalhar com os alemães que vieram instalar o telégrafo sem fio nos navios brasileiros, e, em 1911, como topógrafo, participou da revisão do projeto de esgotos da cidade, e, em 1924, engenheiro, levantou planta da enseada a São Lourenço, que serviu de base para o Porto de Niterói.

Com apenas 12 anos de idade, já dominava bem a Física, a Matemática e o Francês, mas teve que largar os estudos na 3ª classe primária, para arranjar um emprego. Iniciou carreira como Operário da 5ª classe, da Oficina de Armamento da Marinha, ingressou na Prefeitura Municipal de Niterói como Topόgrafo, e se aposentou como Engenheiro, ao completar 70 anos de idade. Ao seu pai, que era um autodidata e professor de Humanidades, ele atribui grande parte de seu sucesso na vida profissional.

Aposentadoria aos 70

Mesmo com seus 70 anos de idade, na época em que foi aposentado pela compulsória, Romeu Seixas Mattos ainda queria continuar trabalhando, porque, como ele diz: "Quem se aposenta acaba se fossilizando". E, como ele não quiz se sujeitar a isso, começou a frequentar cursos de especialização e atualização em Administração Pública e Relações Humanas, e prosseguiu com suas pesquisas sobre a História Fluminense, consultando arquivos e bibliotecas públicas.

Falando sobre suas pesquisas ele afirma que, "no início quis estudar a água como elemento de coesão social, já que todas as cidades surgiram nas margens de fontes e proximidades de rios". E, nesse estudo, ele chegou até Arariboia. E, como ele mesmo disse: "Na caçada a gente procura uma coisa e acha outra, e foi aí que resolvi pesquisar e escrever, não apenas sobre água e esgoto, mas abranger também a religião e o folclore".

Romeu Seixas Mattos é um dos grandes colaboradores do Jornal O Fluminense, onde periodicamente são publicados seus artigos, sob o título de "Niterói que eu Vi e Que Viram Meus Avós". Para o estudioso da história fluminense, colecionar seus artigos é quase que uma obrigação pois neles estão incluídos detalhes e observações pessoais que, dificilmente, poderão ser encontrados em livros e revistas especializadas em história e folclore fluminense.

Após um período de afastamento de suas atividades habituais, que incluía 20 minutos de ginástica, diariamente, e trabalhos de pesquisa bibliográfica para a redação de seus artigos, Romeu Seixas Mattos, que devido a problema visual teve que se submeter a uma cirurgia, só está aguardando a ordem médica para retornar à rotina. Ele já está ansioso por reiniciar o serviço e colocar tudo em ordem, inclusive atualizar seu arquivo de recortes de jornais, e praticar sua ginástica matinal, que já está lhe fazendo falta.

De operário a engenheiro

Frequentador assíduo das aulas de seu pai, que era um autodidata e lecionava Humanidades, Romeu Seixas Mattos estudou até a 3ª classe primária no "Collegio Franco-Brazileiro", de onde saiu em 1902. O colégio ficava em Petrópolis, que, na época, era a Capital do Estado.

Durante reduzido tempo de frequência às aulas, classificou-se como excelente aluno, e já dominava perfeitamente o Francês, a Física e a Matemática, o que lhe valeu para ser aprovado no exame de suficiência para ingressar no Centro de Armamento da Marinha, em 1903, com 12 anos, como Operário de 5ª classe da Oficina de Torpedos e Eletricidade. Essa mesma prova é que dava oportunidade de acesso aos Aprendizes à categoria de Operário.

Todo o mérito de seus estudos e, posteriormente, no trabalho, Romeu Seixas Mattos atribui a seu pai, com que muito aprendeu sobre Física e sobre Aritmética que, na escola primária, estudou até as Proposições. Quanto ao Francês, ele nunca encontrou maiores dificuldades, já que as aulas eram dadas em francês, desde a 1ª série. "Esse perfeito domínio da língua estrangeira foi que me deu oportunidade para trabalhar com os alemães, que vieram colocar telégrafo sem fio nos navios da nossa esquadra", afirmou.

E com 12 anos, exercendo a função de Operário de 5ª classe, na Ilha das Cobras, recebia Cr$ 3 mil e quinhentos por dia, com o que podia ajudar seu pai que estava desempregado.

Com o aparecimento da luz elétrica, no início do século, Romeu Seixas Mattos fez as primeiras instalações, junto com um grande amigo, o já falecido, Waldemar Nerval Kastrup, então topógrafo do Colégio Militar, que foi quem lhe arranjou o emprego na Prefeitura, na época em que já estavam escasseando os serviços de eletricidade.

Apesar de seus 82 anos de idade, Romeu Seixas Mattos possui excelente memória, e, em sua entrevista com O Fluminense, ele colocou em evidência os fatos mais marcantes de sua longa carreira no serviço público (60 anos de atividades, incluindo 20 em ilegível), nunca se esquecendo dos nomes completos das pessoas a quem se referia, especificando cargo ocupado, trabalhos realizados, dia mês e ano.

Na sequência dos fatos ligados à sua vida profissional, ele diz que, no dia 16 de março de 1911 foi nomeado Topógrafo da Prefeitura Municipal de Niterói, onde exerceu o cargo durante nove anos. Foi quando tomou parte na revisão do projeto de esgotos da cidade. Uma das características da época eram os "Tigres" - assim eram denominados os barris utilizados pelos escravos para transportar os detritos para os locais de despejo.

Em 1924 atingiu o quadro de engenheiro da Prefeitura, após ter servido durante 3 anos no Exército, e concluído um curso de Oficial da Reserva. Como engenheiro, levantou a planta da enseada de São Lourenço, que serviu de base para o Porto de Niterói, e passou para Inspetor de obras particulares, ao mesmo tempo que fazia perícias de obras da Polícia Militar e perícias judiciais.

O esgoto da cidade

Ele conta que com o advento do terceiro centenário de fundação da cidade de Niterói em 1872, foi feita a primeira tentativa para implantação do sistema de esgotos. O projeto caducou, e em 1890, no Governo de Francisco Portela é que foi iniciado o trabalho baseado no sistema misto, isto é, no modelo britânico.

"Com o advento da revolta, deposição de Portela, e, pelas novas condições políticas, foi tudo interrompido, com exceção do Serviço de Águas, que já havia sido inaugurado".

Em 1911, quando o prefeito de Niterói era o Dr. Feliciano Sodré, a Diretoria de Obras assim estava composta: Diretor - Dr. Godofredo de Freitas Travassos; Engenheiro Ajudante - Arthur de Mello Braga Furtado de Mendonça; Gerente das Oficinas - Isidoro José Machado Lapa; Topógrafos - Romeu Seixas Mattos, Mário de Queiroz Souto e Waldemar Nerval Kastrup; Topógrafo e Desenhista - Francisco Correa de Albuquerque; e Desenhista - Inocêncio Nazário de Gouveia Júnior.

"E o Sodré constituiu uma comissão para fazer o esgoto, e eu, e Waldemar Kastrup, traçamos o projeto que trazia uma divisão em três bacias de coleta e despejo. Essa comissão de engenheiros reunia, Joaquim Gomes, responsável pelo Distrito Norte (Barreto); Eráclito Pais Ribeiro, Distrito Central; e Rodolfo Villanova Machado, engenheiro-chefe do Distrito Sul (Icaraí e Santa Rosa), com quem eu trabalhava, disse à reportagem. E acrescentou: "Era uma estirpe nobre de engenheiros civis e militares; que o Sodré trouxe para Niterói, além de dois técnicos de Manguinhos, e o Dr. Teixeira de Freitas, que chefiava o Almoxarifado".

No ano de 1952, Romeu Seixas Mattos já havia concluído um levantamento para o projeto de esgotos no Bairro de São Francisco, bairro que até hoje só foi parcialmente beneficiado nesse setor.

Finalizando sua entrevista, Romeu Seixas Mattos diz que no ano de 1962, a Prefeitura determinou seu afastamento da Companhia de Águas e Esgotos, e que, dez anos mais tarde, ele se aposentou pela compulsória, muito à contragosto seu, pois achava que muita coisa ainda estava por fazer e tinha perfeitas condições para prosseguir.


Publicado originalmente em O Fluminense, em 01 de setembro de 1974
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto


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Publicado em 23/10/2024

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