Capítulo 43 da Série "A Niterói que eu vi e a que viram meus avós", de Romeu de Seixas Mattos
Encerrei meu último artigo sobre reflexos negativos das lutas políticas na administração do Prefeito Dr.
Otávio Carneiro (1915-1918), embora pela orientação que tomou, em vista das circunstâncias ocasionais, sua gestão apresentou grande número de episódios interessantes para a história da cidade, mas que ficarão para outra oportunidade.
Ao Dr. Otávio Carneiro, sucedeu, na Prefeitura Municipal de Niterói, o Dr.
Enéas Ribeiro de Castro, sucessão sem tumulto nem luta política, porque nessa mesma época, o Dr. Nilo Peçanha passava a presidência de Estado do Rio de Janeiro ao Dr. Raul de Morais Veiga, seu correligionário político.
Assim, empossou-se o Dr. Enéas de Castro em 1º de janeiro de 1919, enquanto e Dr. Otávio Carneiro foi dirigir uma grande empresa particular.
Neste ano de 1919 - em 11 de agosto - verificou-se o primeiro centenário da instalação da Vila Real da Praia Grande, e tal efeméride exigia grandes realizações para comemorá-la. Por esse motivo foi feito um recenseamento municipal que deu para o Município de Niterói uma população de 64.025 habitantes.
Como Presidente do Estado, o Dr.
Raul Veiga tinha ascendência sobre o prefeito Dr. Enéas de Castro, que era de sua livre nomeação.
Na sucessão de 1914-1915 Prefeito era niteroiense, sendo Presidente um campista; já na sucessão de 1918-1919, o Presidente do Estado era natural do município de São Francisco de Paula (que foi dividido entre São Sebastião do Alto e Trajano de Morais, ao ser extinto) e já trabalhara na PMN, na Comissão de Levantamento da Planta Semicadastral da cidade, ao passo que o Prefeito era de Campos, segundo penso.
Como todos sabem, no advento da criação da Província do Rio de Janeiro, em 1835, três vilas disputaram a primazia para ser a capital da Província: Praia Grande, Campos e Itaboraí. Mais tarde, em 1893, Teresópolis e Petrópolis entraram nessa cogitação, sendo que Petrópolis chegou a ser capital por oito anos. Daí a possibilidade de admitir-se a existência de uma rivalidade entre os filhos dessas cidades, e o desejo de pleitear novamente essas vantagens, quando surgisse nova oportunidade de escolher-se capital de Estado.
Sendo assim, é natural que o Dr.
Nilo Peçanha desejasse fazer de sua terra (Campos) a capital do Estado de Rio, tanto que, as candidatar-se a primeira vez à Presidência do Estado, incluiu-se na campanha que conseguiu a volta da Capital, de Petrópolis para Niterói, e que procurasse, depois, criar outras condições favoráveis aos seus objetivos, a fim de transferir de Niterói para Campos a sede da Capital de Estado do Rio de Janeiro.
Quando se discutia a mudança da capital, em 1893, Niterói estava sendo bombardeada pela esquadra da Marinha Nacional que se revoltara, e, por isso, foi alegada a inconveniência de uma cidade marítima ser Capital.
Também a importância e desenvolvimento de uma cidade representam condições para que seja escolhida como Capital.
Então, se Campos apresentasse um desenvolvimento populacional, cultural e econômico maior que Niterói, aliado à condição de ser uma cidade interior, teria maiores condições para ser a Capital do Estado.
Em 1919 a Guerra Mundial que se iniciara 5 anos antes pusera em evidência o aeroplano, criando a possibilidade de um bombardeio aéreo e fazendo, assim, desaparecer a vantagem da cidade interior sobre a cidade litorânea, nesse ponto de vista.
Também em 1919 as atenções estavam concentradas no advento do primeiro centenário de instalação da Vila Real da Praia Grande, e ninguém se preocupava com mudança da Capital e assuntos correlatos.
Sendo o Dr. Raul Veiga natural do Município de São Francisco de Paula (nascido na fazenda da Barra), que nunca pretendeu ser capital, e havendo trabalhado na Prefeitura de Niterói, penso que estaria isento dessas rivalidades e objetivos.
Publicado originalmente em O Fluminense, em 31 de agosto de 1975
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto
Na imagem de capa, o ex-prefeito Enéas Ribeiro de Castro
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