Capítulo 44 da Série "A Niterói que eu vi e a que viram meus avós", de Romeu de Seixas Mattos
Formados em engenharia, os Drs. Raul Veiga e Enéas de Castro não poderiam deixar de aproveitar melhoramentos que estavam paralisados e que com algumas obras complementares, poderiam entrar em funcionamento e produzir renda, o que poria em evidência as suas administrações.
Era o caso do reforço de abastecimento de água feito pelo Dr. Sodré: apesar de ter sofrido um golpe quase mortal, que tornara difícil sua conclusão, existia construída, entre Niterói e Itambi, cerca de vinte e cinco quilômetros de malha adutora de 50 centímetros de diâmetro, de ferro fundido, que poderiam ser postos em funcionamento, após algumas obras complementares trazendo muito mais água para Niterói.
Para isso bastaria alterar o 'standpipe' do (ilegível), aumentar o diâmetro do trecho de adutora de 25 centímetros de diâmetro, tudo isso na serra de Friburgo, em Boca do Mato, e ligar os 25 quilômetros de adutora de 50 centímetros de diâmetro, de forma a duplicar a adutora entre Itambi e Niterói.
Essa operação encerrava uma dificuldade que se constituía num verdadeiro "ovo de colombo", que tive oportunidade de resolver. Foi primeiramente estudada e experimentada pelo engenheiro-adjunto Dr. José Pinto Meira, que tendo saído da prefeitura, não pode terminá-la.
O Dr. José Serafim dos Santos havia sucedido ao doutor Eduardo Pompeia de Vasconcelos no cargo de engenheiro-adjunto da sessão de esgotos, e com a saída do Dr. Mauricio Rodrigues Pereira, em 1923, passou a acumular também o cargo de engenheiro-adjunto da sessão de águas, e nesse cargo, manteve o serviço de águas nas condições deixadas pelo Dr. Maurício.
Em março de 1924, eu dei baixa do serviço ativo do exército, voltando a exercer na PMN as minhas antigas atividades, acrescentando, porém, uma situação difícil, que felizmente durou pouco tempo, porque pela portaria número 2275, de 2 de abril de 1924, fui promovido interinamente, passando a ocupar o cargo deixado pelo Dr. Serafim, e fiquei acumulando as chefias dos serviços de águas e de esgotos da PMN.
Em 1º de janeiro de 1925 foi extinta a repartição de Planta e Viação da PMN, sendo criada na Diretoria Geral de obras, a sessão de obras públicas, ficando nesta, incorporados os serviços: de Águas, de Esgotos, de Calçamento, de Pedreiras, de Jardins e Arborização.
Pela portaria nº 156 de 1º de janeiro de 1925 e de acordo com a letra "D" do artigo 1º da Deliberação nº 550, de 24 de julho de 1924, e nos termos da deliberação nº 560 de 20 de dezembro de 1924, fui nomeado, em caráter efetivo, para o cargo de engenheiro-adjunto da Seção de Obras Públicas da Diretoria de Obras, ficando assim sob a minha chefia todos os serviços incorporados nessa Seção de Obras Públicas.
Tudo isso é muito extenso para ser exposto aqui, o que farei em outros trabalhos e em ocasiões oportunas porque o número e importância dos episódios, bem como a sua diversificação, atinge a vários pontos de vista, até mesmo de folclore.
Do folclore sim, porque fenômenos de hidráulica que se verificaram em virtude do mal equacionamentos dos serviços feitos, que tive que corrigir, eram interpretados pelo pessoal ignorante como intervenção de "Inhanguçu", que entrava no caso e só saía de lá quando bem entendia. Chegaram a fazer oratórios e rezas para enfrentar o "Inhanguçu", nos pontos afetados.
"Inhanguçu" era uma espécie de assombração que aparecia na zona da Serra de Friburgo, penso que corruptela de "Anhangá-Açu".
Publicado originalmente em O Fluminense, em 07 de setembro de 1975
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto
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