Capítulo 46 da Série "A Niterói que eu vi e a que viram meus avós", de Romeu de Seixas Mattos
Nos primeiros dias do mês de julho de 1919. Dr.
Enéas de Castro mandou dar prosseguimento às obras dos esgotos sanitários, que estavam paradas desde julho de 1915.
A partir de julho de 1910 foram feitos sob a direção do Dr.
Ribeiro de Almeida e seu Engenheiro Ajudante. Dr. Eduardo Pompéia de Vasconcellos, os coletores e obras correlatas das Rua Barão de Mauá, Miguel Lemos, São Diogo, Santa Clara, Silva Jardim e pequenos trechos de outras ruas que escoam para essas galerias, havendo nessa zona do distrito central duas elevatórias, serviços cujas fotografias constam do Livro do Centenário da Praia Grande, organizado por J. Demorais e Pedro Rodrigues Pinto em 11 de agosto de 1819, em virtude do centenário de instalação da Vila Real da Praia Grande.
Naturalmente o prosseguimento das obras dos esgotos em julho de 1919 foi estimulado pelo advento do primeiro centenário da Vila Real da Praia Grande, que Niterói festejaria, e por isso o Dr. Enéas de Castro, uma vez que deu início aos trabalhos, tinha o maior interesse em terminar o serviço de esgotos sanitários dentro do prazo de sua gestão, prazo aliás muito curto, pois o Dr. Enéas de Castro deixou a Prefeitura de Niterói em 23 de maio de 1921.
Também no setor de abastecimento d'água o reflexo do advento do centenário da Praia Grande foi proveitoso, pois permitiu que o Dr.
Maurício Pereira aproveitasse os 25 km da adutora feita pelo Dr. Sodré para melhorar o abastecimento d'água da cidade e, com isso, se colocassem em evidência.
Havendo sido o Dr. Mauricio contemporâneo do Dr. Enéas de Castro na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, tinha com ele relações pessoais de amizade e possibilidade de conversar e trocar ideias sobre o serviço da Prefeitura, sem passar através do engenheiro chefe. Dr. Ribeiro, cujo rigor na observância da técnica o Dr. Mauricio criticava, afirmando que, assim, não conseguiria executar as obras dentro do curto prazo.
Assim sendo, do interesse do Dr. Enéas na rapidez dos serviços e das críticas interessadas do Dr. Maurício, surgiu o afastamento do Dr. Ribeiro de Almeida antes de terminar o ano de 1919, a ele acompanhado o Engenheiro Ajudante Dr. Eduardo Pompeia de Vasconcellos, que passou a trabalhar como engenheiro do Estado, deixando a PMN.
Houve então uma reforma nos quadros da Prefeitura de Niterói, para beneficiar o Dr. Maurício: foi criado o cargo de Diretor Geral de Obras, que passou a ter ascendência sobre todas as repartições técnicas da PMN, e tanto assim que em 9 de dezembro de 1919, quando, pela Portaria nº 380, eu fui promovido para Inspetor de Obras Particulares da Repartição de Arquitetura e Patrimônio, no meu título consta o "visto" do Dr. Maurício, como diretor geral, e o exercício me foi dado pelo Dr. Júlio da Silveira Viana, diretor da repartição de Arquitetura e Patrimônio.
Adotando nova orientação, o Dr. Maurício Pereira resolveu trazer o afluente dos esgotos do distrito Sul para o distrito Central, eliminando assim uma elevatória final de tratamento de esgotos, e, para compensar o pequeno prazo de que dispunha para executar as obras, resolveu também reduzir o rigor dos preceitos da técnica da engenharia sanitária, que a seu ver era muito exagerada.
Não respeitando os velhos ensinamentos do Dr. Saturnino (pai), as tabelas de Waring, Stanley e Pearson, dos coletores que construiu (os 32 km que faltavam), o Dr. Maurício reduziu declividades, velocidades, cuidados na feitura das juntas e não manteve aquela recomendação de aplicar, em cada poço de visita, um caimento fixo de cinco centímetros.
Assim é que os cinco centímetros que economizou em cada poço de visita, os vinte centímetros economizados em cada cabeceira de rede, pois o Dr. Ribeiro de Almeida partia sempre de cada cabeceira com uma profundidade de 80 centímetros, enquanto ele, Dr. Maurício, adotou 60 cm, e a redução da declividade da canalização habilitaram o Dr. Maurício a conseguir menores profundidades na rede e nos poços de visita a serem feitos, simplificando e barateando os serviços consideravelmente, embora com prejuízo da técnica, de modo a permitir a sua realização dentro do curto prazo de que dispunha.
Com o alteamento, a rede de esgotos ficava assim mais exposta às vibrações do trânsito e criava uma dificuldade para esgotar prédios situados longe do alinhamento da rua e em terrenos com declividades contrárias, mas tudo tamo o Dr. Maurício deixou para resolver depois.
Publicado originalmente em O Fluminense, em 21 de setembro de 1975
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto
Na imagem de capa, a Praia Grande fotografada por Augusto Stahl, em 1865 - Acervo IMS
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