Capítulo 47 da Série "A Niterói que eu vi e a que viram meus avós", de Romeu de Seixas Mattos
Trazendo para o Distrito Central as águas do Distrito Sul, a praia de Icaraí ficava isenta das inconveniências de um despejo de esgotos, como constava do projeto do Dr.
Jorge Lossio e revisão do Dr. Ribeiro, mas o Toque-Toque, onde se fazia o despejo do Distrito Central, quando recebesse toda a carga vinda do Distrito Sul, ficaria acrescido de uma descarga de mais de 180 litros por segundo, além dos 259 litros por segundo, correspondentes à descarga do Distrito Central, perfazendo uma descarga total de 439 litros por segundo, alterando, assim, o coeficiente de dissolução do efluente e as esperanças de possibilidade de autodepuração.
Assim, o Dr.
Maurício Rodrigues Pereira, Engenheiro Civil, considerado como profundo conhecedor de matemática, que em 1º de janeiro de 1915 entrava no serviço da PMN como Inspetor de Obras Particulares, da Repartição de Arquitetura e Patrimônio, fora promovido para Engenheiro Ajudante na vaga deixada pelo Dr.
José Pinto Meira e atingira à posição de Diretor Geral de Obras, terminou dentro ainda do período de administração do prefeito
Enéas de Castro o serviço de esgotos sanitários de Niterói (32 km que faltavam e obras complementares), sem fazer qualquer tratamento no lançamento dos esgotos ao mar, habilitando a municipalidade, quando estivessem concluídas as instalações domiciliares, a banir de Niterói os incômodos "tigres" de inesquecível memória.
Nessa ocasião, como já disse em outro trabalho, a Empresa de Remoção de Matérias Fecais do Sr.
Antônio de Oliveira (conhecido pelo povo como Antonico da T) teria de encerrar as suas atividades, e, então, ocorreria o que
Lili Leitão descreveu em um admirável soneto (que segundo penso foi incluído nа sua соleção impublicável denominada "Comidas Brabas") dizendo que "o Antonico da T..., vivendo à custa dela, perdendo ela, caiu nela".
Aliás, o Lili Leitão numa revista de sua autoria que foi à cena penso que no Cinema Politerpsia, fez crítica a uma dualidade de governo e assembléias através de um personagem que só falava no plural, dizendo: que veio procurar os governos, para arranjar colaborações, etc.
Em 23 de maio de 1921 o Dr. Enéas de Castro deixou a PMN sendo sucedido pelo Dr. Ranulfo Bocayuva Cunha, que permaneceu no cargo de Prefeito até 1923.
Em 1923, o Estado do Rio de Janeiro esteve sob intervenção federal, isso representando o declínio do prestígio político do Dr. Nilo Peçanha, que ainda se prolongou por algum tempo.
A revista 'Gaivota', no número especial de aniversário de Niterói, em 1968, e a 'A Tribuna' do dia 21 de março de 1975 publicaram uma relação dos Prefeitos de Niterói, na qual dizem: 10º, Dr. Felipe Senès, 1923 (alguns meses) e 11º, Dr.
Homero Brasiliense Gomes de Pinho, de 1923 a 1924 - o que não está certo porque nesse período, omitiram o nome do Coronel
Cantidiano Rosa.
Essa transição de Prefeitos demonstra as alternativas de prestígio político de
Nilo Peçanha e
Norival de Freitas, pois nas mudanças de situação existem sempre altos e baixos.
O Dr.
Felipe Senès era um antigo funcionário do Estado que não era político; o Coronel Cantidiano Rosa era um político correligionário do Dr. Norival, mas que também tinha a sua política de interesse próprio; e o Dr. Homero Pinho erа, паquela época, um jovem que havia sido funcionário da PMN, iniciando uma carreira que finalmente se encaminhou para o judiciário na cidade do Rio de Janeiro, onde faleceu recentemente como Desembargador.
Através dessas sucessões na PMN, foi evoluindo em Niterói o prestígio político de Norival de Freitas, evolução cujo vértice da trajetória política chegou até o advento da Revolução de 1930.
Já tendo eu feito o Curso de Oficial da Reserva do Exército, fui convocado para o serviço ativo, e, assim, o prefeito Dr. Enéas de Castro, atendendo a solicitação contida no Ofício n.º 818, que lhe foi dirigido pelo Diretor da Secretaria do Ministério da Guerra, colocou-me à disposição daquele Ministério, pela Portaria nº 1077 de 17 de março de 1921. Fiquei afastado da PMN cerca de três anos, período em que obtive melhora de situação em todos os sentidos.
Ganhando 450$000 por mês como Inspetor de Obras Particulares da PMN, passei a perceber mensalmente, no Exército, os vencimentos de 1:250$000 correspondentes ao posto de capitão, naquela época, podendo, além disso, dispor de tempo para, no município onde estivesse exercendo as minhas atividades, fazer perícias e levantamentos de plantas. Pena é que a minha convocação durasse tão pouco tempo...
Também o Dr. Mauricio Pereira foi atingido pelos reflexos negativos das lutas políticas, porque, quase ao findar a administração do Dr. Homero Pinho, em 1924, teve de pedir demissão do cargo de Diretor Geral da PMN, ficando sem emprego. Se houvesse feito como eu, que a conselho do Dr. Ribeiro de Almeida, e tendo em vista o que aconteceu com o Dr. Maurício, nunca tentei ir além do cargo de engenheiro-ajudante, cargo em que me aposentei, isso não lhe teria acontecido.
O cargo de Engenheiro-ajudante correspondia ao nível de sub-diretor, e encerrava uma tradição na história dessa carreira, que, a meu ver, representa um grande valor. Ele surgiu porque nos primórdios da organização do Brasil não havia ainda o engenheiro-civil. O Brasil era dividido em distritos, chefiados por engenheiros militares que se encarregavam das obras, naquele tempo poucas. Crescendo o volume das obras a executar, foram criados os cargos de engenheiro-ajudante, para os quais seriam nomeados oficiais de engenharia de patente menor que a do engenheiro-chefe do distrito.
Foi só em 1858 que o Presidente da Província do Rio de Janeiro (Nicolau Tolentino) tendo em vista a pressão que as pessoas influentes faziam sobre os engenheiros-chefes de distritos para obterem obras nas localidades que lhes interessavam, criou a Diretoria de Obras. Assim então ficou estruturada a carreira do engenheiro, constando de: engenheiro; engenheiro-ajudante, e engenheiro chefe. Mais tarde, com a revolução industrial, surgiu o engenheiro civil, que, em tempos idos, se formava na Escola Central do Exército.
Publicado originalmente em O Fluminense, em 21 de setembro de 1975
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto
Na foto de capa, o deputado Norival de Freitas
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