Capítulo 49 da Série "A Niterói que eu vi e a que viram meus avós", de Romeu de Seixas Mattos
Atingiremos o primeiro semestre do ano de 1924, na administração do Dr. Homero Brasiliense Soares de Pinto, no último "Reflexos negativos das lutas políticas" embora neste artigo e nos outros, tenha eu citado fatos aquém e além da respectiva data e omitido outros, interessantes sob vários pontos de vista, para não alongar a exposição, deixando para abordá-los em momentos mais oportunos.
Disse também que no ano de 1923 o Estado do Rio esteve sob intervenção Federal, representando isso o declínio político do Dr. Nilo Peçanha que ainda se manteve durante algum tempo, e fiz referência à omissão do nome do Coronel Cantidiano Gomes da Rosa da relação de Prefeitos de Niterói, publicadas pelas "Revista Gaivota" e "A Tribuna", etc, o que, a meu ver, torna-se preciso esclarecer.
Assim sendo, temos:
09º - Ranulfo Bocayuva Cunha (nomeado) de 18 de maio de 1921 a 06 de junho de 1922;
10º - Cantidiano Gomes da Rosa (nomeado) de 07 de junho de 1922 a 25 de julho de 1923;
11º - Henrique Castrioto de Figueiredo e Melo (nomeado) de 25 de julho de 1923 a 23 de agosto de 1923
12º - Felipe Sennés (nomeado) de 23 de agosto de 1923 a 27 de setembro de 1923
13º - Homero Brasiliense Soares do Pinho (nomeado) de 27 de setembro de 1923 a 24 de junho de 1924
Para o governo fluminense foi eleito, em 28 de outubro de 1923, o Dr.
Feliciano Pires de Abreu Sodré, empossado perante a Assembleia Legislativa em 23 de dezembro do mesmo ano para um período a terminar em 18 de dezembro de 1927.
Eleito pelo sufrágio direto do eleitorado niteroiense sucedeu ao Dr. Homero Pinho em 1924, na Prefeitura Municipal de Niterói, ο Dr. Rodolpho Villanova Machado, nela permanecendo até dezembro de 1927.
Era a segunda vez que tínhamos o Dr. Villanova ao serviço da PMM, pois no segundo semestre de 1911, quando Ministro da Guerra atendeu à requisição da Prefeitura de Niterói ele, ainda no posto de 2° Tenente de Engenharia, foi nomeado pelo Prefeito Dr. Sodré, Diretor de Obras de PMN em substituição do Dr. Godofredo de Freitas Travassos, que voltara ao seu cargo efetivo de Engenheiro-Adjunto da aludida diretoria.
Criada em 1911 a 1ª Seção de Saneamento de Niterói, foi o Dr. Villanova nomeado Engenheiro-Chefe do Distrito Sul, aí permanecendo até 21 de março de 1914 quando foi nomeado pelo presidente do Estado, Dr. Oliveira Botelho, para substituir, na prefeitura de Niterói, o Dr. Sodré que se afastara para candidatar-se à presidência do Estado do Rio.
Enquanto e Dr. Villanova Machado foi Diretor de Obras e Engenheiro-Chefe do Distrito Sul da 1ª Seção de Saneamento de Niterói, no período compreendido entre o segundo semestre de 1911 e 21 de março de 1914, meu falecido amigo Waldemar Nerval Kastrup e eu trabalhávamos, como Topógrafos, sob a sua chefia direta e rigorosa, pois Dr. Villanova procurava obter o máximo das nossas atividades.
A Topografia é uma das partes mais importantes da Engenharia, tendo em vista que os projetos baseiam-se, quase sempre, nos levantamentos topográficos.
"Onde o progresso se inicia ou existe, lá está o topógrafo com sua equipe de abnegados. Transpondo montanhas e matas virgens, "habitat" de animais selvagens e peçonhentos; percorrendo pantanais insondáveis, de águas contaminadas de micróbios patogênicos os mais variados, fazendo, em frágeis embarcações, perigosas travessias de rios caudalosos, pântanos e lagoas, correndo risco de desaparecer em sumidouros e de ser devorado pelas ferozes piranhas-negras das lagoas-de-enchente que se formam nas margens dos rio São Francisco e nos pantanais matogrossenses" (e de ser surpreendido por traiçoeiras cabeças-d'água, dizemos nós) atuando em praias açoitadas por ventos permanentes, sofrendo saraivadas de areia de dunas, que causam irritação aos olhos etc.
Inúmeros são os casos de engenheiros e topógrafos mortos em serviço, ou em consequência do mesmo.
Naquela ocasião, isto é, em 1011 ou 1913, quando os topógrafos Mário Queirós Bouto e Waldemar Nerval Kastrup foram designados para trabalhar no serviço de águas, apanharam impaludismo e tiveram de voltar para Niterói com urgência, sendo que o Kastrup chegou a ter as meninges ameaçadas pelo paludismo, entrando em coma e salvando-se por verdadeiro milagre.
O caso do Engenheiro Bernardo Sayão, morto durante a construção da Estrada Belém-Brasília, foi muito comentado na época, mas também foi emocionante a história do avião perdido na selva amazônica com os engenheiros Júlio e Cláudio, segundo penso.
Na construção da Barragem Pai Joaquim em Santa Juliana, no Triângulo Mineiro, dois funcionários do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) contraíram a terrível e incurável "doença de Chagas", sendo um deles, o topógrafo Kimar Rodrigues Reis, que morreu em 1960.
Durante a locação da adutora do Rio das Velhas e a reconstrução da Barragem da Pampulha, em Belo Horizonte, muitas foram as vítimas de graves disenterias bacilares, de helmintoses diversas, da terrível esquistossomose, e até mesmo no Canal de Santa Rosa, no bairro Vital Brasil, aqui em Niterói, houve quem contraísse hepatite infecciosa.
Publicado originalmente em O Fluminense, em 5 de outubro de 1975
Pesquisa e Edição: Alexandre Porto
Na imagem de capa, retratos de Nilo Peçanha e Feliciano Sodré
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