Pouco depois de adquirida pelo Governo do Estado, a biblioteca de Caveira Vianna foi tombada pelo Departamento Estadual do Patrimônio, tendo sido designado para a tarefa o Sr. Isolino Moreira, funcionário daquela Repartição. A biblioteca deixada pelo Ministro Oliveira Vianna distingue-se pelo alto valor intrinseco; pela presença de obras clássicas, recentes e raras: pelo teor de especialização em sociologia, política), antropologia, direito público. história (do Brasil principalmente) e economia social: e pelo rigoroso critério de seleção com que foi constituída.

A biblioteca se destaca em seu aspecto qualitativo. Não existe nada de superfluo, tudo obedece às necessidades efetivas de estudo. Oliveira Vianna consumia, de fato, sua biblioteca.

Obras clássicas recentes e raras

Quanto a feição clássica, bem como de atualidade e raridade das obras, cabe assinalar que é outro mérito visivel, que realça a singularidade de conjunto, dando lhe a condição de original. O certo é que vem a ser bem menos comum de que ordinariamente se acredita a presença simultânea de livros clássicos, recentes e raros, em bibliotecas desta natureza. O que se observa, quanto a clássicos e modernos e em geral, um certo exclusivismo na aquisição das fontes. No entanto, o Professor Oliveira Vianna reuniu, em seu acervo, obras tipicamente clássicas e obras modernas - inclusive 1951, ano em que faleceu. E esse mérito explica o outro: o da raridade.

Já se vê, portanto, que não encara aqui a raridade num sentido, apenas de valor histórico. O que se deseja é salientar a raridade específica no relativo a organização ou constituição do patrimônio sem contudo perder de vista a raridade de interesse local, raridade para o leitor brasileiro e, muito especialmente para o leitor fluminense.

Especialização





Outra peculiaridade da biblioteca - o teor da especialização - também amplia o valor raridade. Não é ela, entretanto, especializada pela circunstância de acusar predominância das obras de sociologia. Não: a especialização, no caso, decorre do fato de poderem essas obras facilitar aos estudiosos o conhecimento global da evolução do pensamento sociológico tanto quanto das técnicas de pesquisa social. Isso explica que a absoluta maioria seja de livros de tese e não de livros propriamente didáticos ou de feição didática. Prevalecem as obras de ciência política e num sentido mais amplo, de ciência social.

No primeiro grupo, livros relativos à estrutura do Estado moderno e sua substância ideológica bem como sobre instituições e regimes políticos. No segundo grupo de antropologia (fisica e cultural), sociologia pura e aplicada; economia social; etnologia e história, principalmente do Brasil. Destaca-se ainda farto material de obras dedicadas ao estudo de direito público, a sociologia do trabalho e do trabalhador ou ao fenômeno e problemas mundiais de socialização.

Seleção

Quando o autor de "Evolução do Povo Brasileiro" desejava um livro americano de ciência social, sua encomenda era feita, diretamente à Universidade de Columbia, Chicago ou Yale pois sabia que eram mais especializadas no assunto ao passo que escreveria para a editora da Universidade de Harward se o livro que quisesse adquirir versasse matéria de direito público.

Esse rigor de método indica a razão por que o Professor Oliveira Vianna pode constituir com perfeição sua biblioteca. Este mesmo critério era usado para compra de revistas científicas européias, norte e sul-americanas, de que se tornara assinante havia longos anos.

Merece destaque o fichário especial que contém numerosas "papeletas nas quais o escritor registrava conceitos seus e alheios, resumos de pesquisas, observações sucintas, porém muito progressivas de fatos, homens e coisas do Brasil; opiniões de sociólogos, antropólogos, historiadores, economistas ou juristas estrangeiros: depoimentos de "matutos" fluminenses, paulistas, nordestinos, mineiros, sobre acontecimentos e instituições locais; notas de viagens; esquemas de livros a escrever enfim, todo um precioso material que era o ponto de partida para a elaboração de suas obras ou melhor: todo um repertório de coisas, situacões e pensamentos realmente vividos. Este repositório mostra ao pesquisador fluminense o métdo de estudo e de investiação social do autor de "Instituições de Políticas Brasileiras".

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Publicado originalmente em "O Fluminense", em 23 de março de 1975
Pesquisa e Edição de Alexandre Porto