Área: 5,09 km2
População: 54984 habitantes (IBGE 2000)
O Fonseca é um dos bairros mais antigos de Niterói, situando-se em um vale cortado pelo canal do rio da Vicência e circundado por morros que o limitam com Baldeador, Caramujo, Viçoso Jardim, Cubango, São Lourenço, Santana, Engenhoca, Tenente Jardim e também o município de São Gonçalo.
Olhando-se o Fonseca do alto, na descida do morro da Caixa d’Água ou de qualquer de seus morros, pode-se observar imediatamente dois fatos que são marcantes na caracterização do bairro: 1º) a Alameda São Boaventura com suas duas vias, o canal da Vicência e árvores que o ladeiam, cortando o bairro no sentido oeste - leste, e seu grande movimento de veículos; e 2º) a ocupação praticamente total de seu território por edificações onde são minoritários e facilmente identificáveis os edifícios de apartamentos, tanto na parte baixa quanto nas suas encostas.
A predominância de construções de um ou dois pavimentos fez do Fonseca um bairro extremamente populoso e adensado (11.499 hab/Km2). Em população ele é o maior da Região Norte e o segundo de Niterói, com uma diferença de 4.960 habitantes (1 ) em relação a Icaraí. O padrão construtivo é bastante diversificado: podendo-se encontrar desde alguns palacetes que ainda resistem ao tempo à casas geminadas, sobrados, vilas de casas (2), edifícios, prédios populares e casas de favela, atestando o seu grande contingente populacional, sua história e seu perfil.
O lugar calmo e coberto de vegetação exuberante que existia até o final do século passado, com suas fazendas e aprazíveis chácaras que serviam de endereço para famílias ilustres, gradativamente deu lugar ao Fonseca de hoje. Historicamente o Fonseca está intimamente ligado a São Lourenço e Santana, daquele se originando.
Na Sesmaria de São Lourenço dos Índios, estabeleceram-se "gente de pequenas ou maiores posses", com assistência dos jesuítas e sob às vistas das autoridades régias, em terras obtidas por aforamento aos que as solicitavam, por um preço irrisório. Provavelmente muitas terras foram ocupadas nessa época sem título algum. Desta forma, iniciou-se a ocupação de Niterói, particularmente do bairro do Fonseca, que deve seu nome a José da Fonseca Vasconcellos, um dos grandes fazendeiros da região.
Nos campos do Fonseca, cercado pelos morros(3) antigamente chamados de São Lourenço, ao sul, e Santana, ao norte, foram estabelecendo-se propriedades agrícolas: primeiro plantações de cana e engenhos; depois café, além de milho, feijão, mandioca, hortaliças e pomares. Com o tempo estas propriedades foram sendo divididas, para venda ou entre os herdeiros, sendo subdivididas em sítios e chácaras. Novos moradores se estabeleceram no bairro.
Com a interiorização das atividades econômicas no Estado, surge a necessidade de abrir novas vias de comunicação. A ocupação do Fonseca está relacionada principalmente a este fato.
Dois eram os caminhos que ligavam Niterói a Inoã / Maricá e Campos. Passando pelas matas da Paciência, um deles cortava o Fonseca, aproveitando um caminho natural (4), ao longo do curso do rio da Vicência. A necessidade permanente de melhoria deste caminho e a intensificação da ocupação do Fonseca, levaram à sua urbanização, com a construção da Alameda São Boaventura e canalização do rio Vicência, passando o bairro também a ser dotado de outros serviços públicos: a 07 de setembro de 1883 foi inaugurada a linha de bondes de tração animal até o final da Alameda; e, a 15 de agosto de 1908, chegam os bondes elétricos.
Com o estabelecimento de portos (Santana, Mayer, São Lourenço) no litoral de São Lourenço/Santana e a implantação de ferrovias (segunda metade do século XIX), o processo de ocupação de São Lourenço, Santana e Fonseca se intensifica e novos estabelecimentos comerciais e industriais instalam-se, atraindo novos moradores, tanto do interior do Estado, quanto do exterior (portugueses, espanhóis e italianos). No séc. XX, as obras do aterro de São Lourenço, a construção do porto de Niterói (pedra fundamental em 1924), da estação ferroviária (1930) e a abertura de nova avenida (Feliciano Sodré), ligando diretamente a Alameda à rua Visconde do Rio Branco, concorrem ainda mais para o crescimento do Fonseca.
Aparecem as mansões; colégios particulares são criados (Brasil e Nossa Senhora das Mercês); loteamentos são lançados, charcos são drenados possibilitando novas edificações; o
Horto (e suas escolas superiores) é criado; aparece a Penitenciária; o Grupo Escolar Hilário Ribeiro é instalado; novas ruas são abertas comunicando o bairro com outros bairros; pequenas indústrias começam a funcionar (como a fábrica de tamanco, a fábrica de doces e a fábrica de cimento - todas desativadas); e a "Vila Jardim" é projetada e construída no campo do Ipiranga, ao lado da Alameda, para habitações de trabalhadores.
Muitos estabelecimentos comerciais são instalados ao longo da Alameda e de suas ruas transversais. Chegam os armazéns de secos e molhados, padarias, bares, quitandas e leiterias. Algumas poucas chácaras e sítios que persistiram até décadas mais recentes acabaram dando lugar a casas, vilas de casas ou prédios de apartamentos. Com o crescimento do Fonseca sedimenta-se também o seu perfil de bairro residencial.
Os anos passam e o transporte rodoviário torna-se o mais utilizado, fazendo praticamente desaparecer o porto e a ferrovia, vítimas também do esvaziamento econômico do interior do estado. A construção da Ponte Rio-Niterói e a sua ligação direta com a Alameda São Boaventura aumenta o tráfego de veículos e atrai novos moradores, intensificando ainda mais o crescimento do bairro.
Até o início da década de 50, quando foi dado outro traçado ao canal da Vicência, facilitando o escoamento das águas pluviais, as enchentes eram intensas e crescentes. Com a construção da Ponte Rio-Niterói houve nova obstrução na saída do Vicência, trazendo de volta as enchentes(5). O problema quase crônico das enchentes, aliado ao excesso de veículos em trânsito, reduziram a qualidade de vida no Fonseca. A busca de endereços mais atraentes ou junto ao mar provocam forte movimento migratório para outros bairros, contribuindo para mudar o perfil dos moradores do Fonseca.
Famílias tradicionais do bairro formada por médicos, industriais e comerciantes - como os Saramago Pinheiro, Torres, Vianna, Botelho, Bastos, Cunha, Pereira Faustino, Pestre, Pires de Mello, Marcondes, Alves, Lima Monteiro(6) e tantas outras mudam-se em direção a outros bairros.
1. Censo Demográfico IBGE/91.
2. Os terrenos das casas do Fonseca, razoavelmente espaçosos, possibilitaram construções de "casas de fundos", para aluguel ou moradia de um filho. Casas de um pavimento foram transformadas em dois, pela mesma razão. Terrenos maiores levaram a construção de vilas de casas para aluguel, vistas como fonte segura de renda, e até mesmo venda.
3. Alugar ou comprar imóveis no Fonseca não é uma tarefa fácil, o que demonstra o grande número de moradores que são proprietários ou inquilinos.
4. Estes morros vão recebendo novas denominações à medida que vão sendo ocupados: Juca Branco, Boa Vista, Holofote, etc.
5. Percorrido por Pedro II.
6. Todas as águas das chuvas convergem para a Alameda, para o "rio da Alameda", que só dá vazão se estiver com suas saídas desobstruídas e limpo ao longo de seu curso. As "chuvaradas" já carregaram pelo canal desde móveis e galhos de árvores, a automóveis, animais e pessoas.
7. Na missa de domingo às 10:00 horas da manhã, na Igreja de São Lourenço, era possível encontrar todas essas famílias reunidas.
Fonte: Niterói-Bairros - Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói - 1991
ÍNDICE DOS BAIRROS DE NITERÓI
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